Lançamento do Resgate Histórico da Procissão do Fogaréu, em Marechal Deodoro

A Semana Santa do Complexo Conventual Santa Maria Madalena, que remonta as celebrações tradicionais, que tiveram início no século XVII, após grande processo de desestruturação, a partir do ano de 2021, ganhou um caráter genuíno de resgate cultural e cuidadosa piedade por iniciativa popular da comunidade conventual.

A Comissão da Semana Santa, formada pelo reitor e administrador do Complexo Conventual, o Padre Luciano Duarte, e dos fiéis de sua comunidade, se propuseram, com o auxílio do povo de Deus, a vestir as tradicionais imagens de roca, preparar as decorações de acordo com a liturgia do dia e organizar momentos de profunda e bela devoção, a fim de fazer um resgate cultural e religioso.

Esse ano a Comissão deseja continuar a resgatar essas práticas do culto religioso que outrora fizeram parte do calendário anual da antiga Vila de Alagoas e que reunia pessoas de locais longínquos de toda a província, e movimentava toda a comunidade local em torno do contato com o Sagrado, do Mistério Pascal.

Com o objetivo de avançar o processo de resgate cultural, e continuar o que fora iniciado em 2021, de forma a estabelecer uma vivência cada vez mais profunda dos mistérios da redenção, unindo este desejo há um resgate cultural, que se estenderá há médio e longo prazo em um novo cenário cultural que proposita restabelecer à cidade o título de capital da Fé de Alagoas, a comissão lançou na quarta-feira de cinzas, após a celebração da santa missa, o resgate da Procissão do Fogaréu.

A Procissão do Fogaréu, esquecida há quase duzentos anos, dramatiza a prisão de Nosso Senhor Jesus Cristo, e de acordo com as pesquisas realizadas pela Comissão, ocorria na quinta-feira santa após o Sermão do Encontro, às 23h00min, partindo da Igreja Matriz.

Ao som de tambores e cortejo à luz de velas pelas ruas históricas da cidade, saíam dezenas de homens encapuzados realizando hábitos de penitências, tais homens eram chamados de farricocos e representavam a guarda judaica dos sacerdotes.

Os farricocos eram fiéis católicos que se vestiam com túnicas e capuzes, e saiam às pressas pelas ruas da cidade e encenando a perseguição a Jesus Cristo. Durante o percurso realizado pelos farricocos, a procissão seguia a batida dos surdos que aceleravam o ritmo da caminhada desses fiéis católicos.
Pedro Paulino da Fonseca, em sua obra A Velha Cidade das Alagoas: Recordação de Suas Antigas Festas, datada em 1895, cita:

“Era bonito de longe, dum ponto elevado, nessa noite de luar claro ver essa imensa cobra de fogo como que em zig-zag, subindo e descendo ruas e ladeiras, ora encobrindo-se em parte, vendo-se a cabeça lá e a calda cá. O efeito do préstito com centenas de luzes era espetacular.”

O lançamento desse resgate cultural, realizado na quarta-feira de cinzas, foi apenas uma das atividades que serão realizadas pela comissão da Semana Santa 2022, com o objetivo de catequizar os fiéis da comunidade conventual e se preparar para a vivência dos momentos de fé e pura devoção, que será realizado entre os dias 10 a 19 de abril, deixou a comunidade entusiasmada, conforme o relato de Maria Luciene que faz parte da comunidade conventual e vem presenciando todas as atividades:

“Antes de cada apresentação que eles vão realizar, eles mostram o que é, eles explicam à comunidade o que é, convidam a comunidade a participar. Está sendo muito bonito ver a comunidade chegando junto”.

A Sra. Heliane Gomes, Ministra Extraordinária da Comunhão Eucarística da comunidade Conventual também não deixou de expressar sua emoção:

“No momento que eu vi aquela apresentação no lançamento, eu fiquei emocionada, porque eu nunca visto algo assim ao vivo, só tinha visto pela televisão. […]
É um resgate da nossa história, que é por muitos desconhecida. Eu hoje tenho 58 anos e nunca vi a Procissão do Fogaréu!”

Com muita alegria, a Comissão pretende continuar, junto com o apoio imprescindível da comunidade, o projeto de resgate que fora iniciado em 2021, buscando fundamentos em pesquisas bibliográficas, que revelam um grande cenário cultural na cidade, com início ainda no século XVII, e que ganhou enorme proporção nos séculos seguintes, bem como com os relatos de antigos moradores da cidade que presenciaram diversos atos litúrgicos e culturais.