Fé e ceticismo científico. Pragmatismo e sobrenatural. Realidades humanas que coexistem sem a necessidade de negação de uma ou outra. Em sua vida religiosa, acadêmica e no serviço público na Ufal, padre Márcio Machado Nunes concilia sua dedicação à pesquisa e às doutrinas da Igreja Católica que orientam sua ordenação.
Seu mais recente estudo acadêmico deu origem ao livro A Arquidiocese de Maceió: uma análise do processo de estruturação da Igreja Católica no território alagoano (1892-1920). A obra é resultado de sua tese de doutorado em História, defendida em março de 2021, pela Universidade de Coimbra, em Portugal, aprovada com nota máxima, “com distinção e louvor”. O lançamento da publicação será no dia 30 de maio, às 19h30, no Seminário Arquidiocesano de Maceió, bairro do Farol.
Padre Márcio explica que o trabalho apresenta a “Igreja Católica em uma perspectiva advinda da História Política e Social”. Ainda de acordo com o pesquisador, “os objetivos foram os de investigar o processo de estruturação da Igreja Católica, essa instituição multissecular e supranacional, em Alagoas, contribuindo para a compreensão das relações entre religião e política no Estado, e do conceito de laicidade”.
“O trabalho investigou a presença da Igreja Católica, desde os primeiros missionários que chegaram ao território de Alagoas (século XVI) até a criação da Arquidiocese de Maceió, em 1920. Discutiu as relações entre religião e política, ao longo de quatro séculos, dando destaque ao processo de implantação do estado laico brasileiro, com a Proclamação da República, em 1889. A partir desse momento, Igreja e Estado, que antes estavam unidos, precisaram viver fases de adaptações no novo contexto político nacional”, informa.
Para resgatar e poder escrever a história, padre Márcio conta que foram realizadas pesquisas nos principais arquivos de Alagoas, Portugal e Itália, “com destaque ao antiquíssimo e famoso Arquivo Apostólico do Vaticano que conserva um dos maiores acervos documentais de toda a Europa”.
O ingresso na instituição portuguesa também oportunizou ao sacerdote dois anos de estudos e pesquisas na Universidade Gregoriana de Roma. Durante esse período, ele participou de uma audiência com o Papa Francisco, por ocasião do Congresso de investigadores da História da Igreja.
“A Universidade de Coimbra é uma das mais antigas da Europa, fundada no ano de 1290, completou 732 anos de existência. Já a Universidade Gregoriana de Roma, onde estudei por dois anos para aprofundar os estudos sobre o objeto de minha investigação, foi fundada ainda no século XVI. Nela, cursei as cadeiras de História da Igreja Contemporânea, História do Papado e Latim”, relata o pesquisador ao informar sobre as instituições universitárias pelas quais teve a oportunidade de estudar.
Vivendo a fé e a ciência
Padre Márcio Machado Nunes conta que sempre gostou do ambiente científico e seu currículo é prova disso. O sacerdote é licenciado em Filosofia pela Ufal e em História pelo Centro Universitário Claretiano. Tem especialização em Docência do Ensino Superior pelo Cesmac e mestrado em História pela Ufal. Ano passado, concluiu o doutorado em História.
“Sempre gostei do ambiente acadêmico-científico, fiz a minha formação em Filosofia na Ufal. Penso que o diálogo entre fé e ciência é muito salutar. Essas duas capacidades que estão no ser humano não são contraditórias; antes, elas se complementam. O mais importante é reconhecer os limites e as possibilidades de cada uma dessas esferas”, argumenta.
Sacerdote e pesquisador, padre Márcio também é servidor da Ufal, no cargo de técnico em assuntos educacionais, lotado no Instituto de Psicologia (IP). As muitas atribuições, aparentemente divergentes, encontram coerência e se harmonizam em sua trajetória e no ambiente plural das universidades pelas quais ele passou. Atualmente, o padre também atua como vice-reitor do Seminário Arquidiocesano de Maceió, lecionando nos cursos de Filosofia e Teologia, e vigário da Paróquia da Sagrada Família, em Jacarecica.
“Desde de quando fui ordenado, sou padre em todos os ambientes e lugares. Procuro conciliar e separar os horários de trabalho na Ufal e a minha missão como sacerdote. O espaço laico não exclui as subjetividades e convicções religiosas. Ele deve ser plural e aberto, inclusive para os que não professam uma religião. É possível ser religioso e praticar a ciência e vice-versa”, defende.
Lançamento
Livro A arquidiocese de Maceió: uma análise do processo de estruturação da Igreja Católica no território alagoano (1892-1920), Editora Cesmac.
Hora: 19h30
Local: Seminário Arquidiocesano de Maceió. Avenida Dom Antônio Brandão, 559, bairro do Farol (em frente ao Colégio Marista)
O livro pode ser adquirido na Livraria do Cesmac