Jovens devotos de várias regiões do Brasil, inclusive em Maceió, propagam a vida de santidade da italiana
Já se passou um ano da beatificação da jovem Sandra Sabattini. Em 24 de outubro de 2021, na província italiana de Rimini, o cardeal Marcello Semeraro, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, presidiu a cerimônia que declarou Sandra como nova beata da Igreja Católica, a primeira noiva a receber o título. Desde aquele dia, a devoção pela beata que faleceu aos 22 anos tem sido despertada em muitos jovens de diversas regiões.
Sandra nasceu em 19 de agosto de 1961 em Rimini, filha de Giuseppe Sabattini e Agnese Bonini. Gostava de servir ao lado de dependentes químicos, pessoas com deficiências e doentes. Cursava em Medicina em Bologna, onde conheceu Guido Rossi, estudante de engenharia civil, com quem namorou e noivou. O casal planejava realizar missão na África, mas a vida de Sandra foi interrompida em 29 de abril de 1984 após ser atropelada quando ela e o noivo se dirigiam a uma reunião da Associação Comunidade Papa João XXIII.
Se tratava aparentemente de uma jovem italiana comum. No entanto, o legado de dedicação no serviço aos mais necessitados, a vida espiritual e os escritos do seu diário mostram a intimidade que Sandra Sabattini tinha com Jesus. A história da jovem se espalhou. Em 2007, o italiano Stefano Vitali, de 41 anos, viu-se curado inexplicavelmente de um câncer em metástase, após ter rezado por intercessão de Sandra. Foi o milagre que fez a Serva de Deus se tornar Beata.
Com esse reconhecimento, a devoção tem se propagado mundialmente e os relatos por graças alcançadas pela intercessão da beata noiva só aumenta. A página no Instagram dedicada a divulgar a história de Sandra com maior número de seguidores é brasileira. O perfil @beatasandrasabatti foi criado em dezembro de 2020 e, durante esse ano de beatificação, os administradores se surpreendem com o crescimento, tendo hoje mais de 15 mil seguidores.
A criação da página foi marcada por uma graça alcançada. Estava recente que a médica Roberta Smiderle Passamani, 31, moradora de Vitória no Espírito Santo, tinha voltado a ser assídua na Igreja. Em um dos intervalos de atendimento em um posto de campanha na pandemia, a jovem teve o primeiro contato com a história da então Serva de Deus Sandra.
“Eu abri o Instagram e me deparei com uma postagem sobre Sandra e vi coisas peculiares sobre ela: viveu a santidade de forma simples e acessível, não precisou de grandes artifícios e evoluções, fez um crescimento espiritual muito grande através do diálogo que tinha com Jesus Cristo, narrado em seu diário. Aos 11 anos, na 1ª Comunhão, ela escreve a frase que me chocou: ‘a vida sem Deus é só um passatempo à espera da morte’”, recorda Roberta.
A partir disso, a capixaba explica que passou a entender a santidade: “A primeira graça alcançada foi compreender que é possível ser santa não sendo completamente perfeita. Um dos segredos é a oração, porque Sandra não fazia nada sem oração. Ela era uma pessoa extremamente ativa e atribuía tudo ao fato de estar fazendo a Jesus, por Jesus e com Jesus. Então isso trouxe uma paz para minha alma, que eu estando em comunhão com Deus, com a Igreja e com meu próximo, eu poderia ser mais santa”.
Roberta quis aprofundar mais sobre a história de Sandra. Com ajuda do irmão, que é padre, conseguiu um livro disponível apenas em italiano. A nova devota de Sandra traduziu o conteúdo para partilhar com a família e amigos. “Achei que mais gente deveria conhecer aquela história, fui procurar no Instagram e não existia nenhuma página dedicada a ela, então comecei a fazer alguns posts com algumas frases mais interessantes e posteriormente adquiri o Diário em italiano também”, detalha a médica.
A página passou a contar com colaboradores de outras regiões do Brasil, formando um apostolado de divulgação da beata.
“O que mais me chama atenção na história dela é que desde muito nova ela percebia as dores das pessoas. Ela sentia o desejo de mudar de vida, de se colocar a vida pelos mais pobres, contemplava a parte mais marginalizada da sociedade, tudo através da fé e não simplesmente por uma ação. Então com grande humildade e intimidade com Cristo, Sandra caminhou em ascensão na escada ao céu, num caminho acessível a qualquer um, e por isso digo que ela é a resposta para o que a juventude tanto quer”, acrescenta a idealizadora da página.
A 1.641 km de Vitória, tem um devoto da Beata Sandra Sabattini em Maceió, Alagoas. Matheus Leonardo Rocha, de 24 anos, soube da história da jovem italiana pela página. “O que admiro em Sandra é a extraordinariedade da sua ordinariedade. Ela era uma pessoa normal, que brincava, estudava, sonhava com uma profissão, que namorou, que vivia na Igreja, mas com seus escritos ela nos surpreende, é aquilo que São Paulo nos fala: ‘Deus usa os fracos para contrariar os fortes’. Nesta normalidade, viveu plenamente o evangelho, uma profundidade da vida cristã em tão pouco tempo”, afirma o alagoano.
Outra jovem que é devota de Sandra Sabattini é uma xará. A Dark Sandra Soares é do município de Itaobim e foi justamente isso que a fez conhecer a história da beata noiva este ano. “Achei interessante uma beata com meu nome, mas não pesquisei sobre a vida dela. Este ano é que conheci e fiquei encantada com a forma de como ela buscou a santidade, na doação e entrega. Ela era jovem universitária, noiva e tinha uma vida de santidade, achei incrível”, relata Sandra. “Peço a intercessão dela para que eu seja santa como ela”.
O padre Marlon Mucio, da Diocese de Taubaté, que é conhecido no Brasil pelo testemunho de fé e do bom humor diante de uma doença genética neurodegenerativa ultrarara, também recebeu uma relíquia da roupa da Beata Sandra Sabattini, com a qual abençoou e divulgou nas redes sociais aos seus seguidores. “Sandra já é uma grande amiga”, expressou o sacerdote.
Associação Comunidade Papa João XXIII
Sandra Sabattini conheceu a Associação Comunidade Papa João XXIII por meio do próprio fundador, padre Oreste Benzi. Ela e o noivo se tornaram membros e eram empenhados nas ações de caridade aos mais excluídos da sociedade. Após a morte de Sandra, padre Oreste teve acesso ao diário de Sandra e, admirado com os escritos que mostravam uma forte intimidade da jovem com a vida de oração e com Cristo, decidiu divulgar a espiritualidade vivida por Sandra com ajuda dos amigos dela.
Na última página do diário de Sandra, dois dias antes do acidente, ela escreveu: “Esta vida não é minha. Esta vida, que vai evoluindo por um sopro que não é meu, passa num caminho sereno que não é meu”. Ela ficou em coma por três dias e morreu no dia 2 de maio de 1984 no hospital de Bologna.
Hoje, a associação internacional de fiéis Papa João XXIII está presente em dezenas de países e propaga a história de Sandra Sabatti com a distribuição de material sobre a vida da beata e relíquias, por exemplo. No Brasil a Associação foi fundada em 1994 em Coronel Fabriciano, Minas Gerais. Está presente nas cidades mineiras de Itaobim, Medina e Araçuaí. No Pará, nas cidades de Marituba e Castanhal. Na região nordeste, a capital Bahia também conta com uma casa de missão.
Processo de canonização
A causa de canonização foi aberta em setembro de 2006 pelo então bispo de Rimini, Dom Mariano De Nicolò, com cerca de 60 testemunhos sobre as virtudes de Sandra. No final da investigação sobre sua vida, virtude e fama de santidade, ela foi declarada Serva de Deus em 6 de março de 2018 pelo Papa Francisco, que aprovou o decreto que reconhece as virtudes heroicas da italiana Sandra Sabattini.
Agora, beatificada, o próximo passo para Sandra ser canonizada é o surgimento de um milagre. Este tem que ter ocorrido após a beatificação. Depois do processo de comprovação do milagre, ela será canonizada e passará a ser cultuada universalmente.
Reportagem: Thiago Aquino/Pascom Arquidiocesana