Raimundo de Lima – Vatican News
Que o Domingo da Palavra de Deus nos ajude a regressar com alegria às nascentes da fé, que brota da escuta de Jesus, Verbo do Deus vivo. Que, por entre as palavras que se dizem e leem continuamente sobre a Igreja, nos ajude a redescobrir a Palavra de vida que ressoa na Igreja! Caso contrário, acabamos por falar mais de nós que d’Ele; e, no centro, permanecem os nossos pensamentos e os nossos problemas em vez de Cristo com a sua Palavra.
Foi o que disse o Papa este domingo, 21 de janeiro, V Domingo da Palavra do Senhor, na Missa presidida pela manhã na Basílica de São Pedro. Dois fiéis leigos receberam o ministério de Leitor e nove o de Catequista, representando o povo de Deus e oriundos do Brasil, Bolívia, Coreia, Chade, Alemanha e Antilhas. O Domingo da Palavra de Deus deste ano tem como lema “Permanecei na minha Palavra” (Jo 8, 31).
Refletindo sobre a Palavra de Deus na liturgia deste III Domingo do Tempo Comum, Francisco ressaltou que grande é a força da Palavra do Senhor, dela irradia a força do Espírito Santo.
A Igreja é chamada por Cristo, atraída por Ele
A Palavra atrai a Deus e envia aos outros: tal é o seu dinamismo. Não nos deixa fechados em nós mesmos, mas alarga o coração, faz inverter o rumo, altera os nossos hábitos, abre novos cenários, desvenda inesperados horizontes.
A Palavra de Deus, continuou o Santo Padre, pretende operar isto em cada um de nós. Tal como aconteceu com os primeiros discípulos que, acolhendo as palavras de Jesus, deixam as redes e embarcam numa maravilhosa aventura, assim também nas margens da nossa vida, ao pé dos barcos de familiares e das redes do trabalho, a Palavra suscita o chamado de Jesus. Chama para, com Ele, nos fazermos ao largo ao encontro dos outros.
Sim, a Palavra suscita a missão, faz-nos mensageiros e testemunhas de Deus num mundo cheio de palavras, mas sedento daquela Palavra com maiúscula que muitas vezes ignora. A Igreja vive deste dinamismo: é chamada por Cristo, atraída por Ele, e é enviada ao mundo para dar testemunho d’Ele.
A escuta da Palavra e a adoração do Senhor
Não podemos prescindir da Palavra de Deus, da sua força suave que – como num diálogo – toca o coração, imprime-se na alma, renova-a com a paz de Jesus, que nos desinquieta em prol dos outros. Se olharmos para os amigos de Deus, frisou o Pontífice, para as testemunhas do Evangelho na história, vemos que, para todos, foi decisiva a Palavra.
Pensemos no primeiro monge, Santo Antão, que, tocado durante a Missa por um trecho do Evangelho, deixou tudo por amor do Senhor; pensemos em Santo Agostinho, que deu uma reviravolta na vida quando uma palavra divina lhe curou o coração; pensemos em Santa Teresinha do Menino Jesus, que descobriu a sua vocação lendo as Cartas de São Paulo. E penso no Santo cujo nome adotei, Francisco de Assis, que, em oração, lê no Evangelho que Jesus envia os discípulos a pregar e exclama: «Isto eu quero, isto peço, isto anseio fazer de todo o coração!». Vidas transformadas pela Palavra de vida, observou o Papa.
Mas por que não acontece o mesmo a muitos de nós? – Perguntou Francisco. Decerto porque, como nos mostram estas testemunhas, é preciso não ser «surdo» à Palavra. Este é o nosso risco: arrastados por mil palavras, passa-nos por cima também a Palavra de Deus: ouvimo-la, mas não a escutamos; escutamo-la, mas não a guardamos; guardamo-la, mas não nos deixamos provocar à mudança de vida. Sobretudo lemo-la, mas não a rezamos; ora «a leitura da Sagrada Escritura deve ser acompanhada de oração, para que seja possível o diálogo entre Deus e o homem». Não esqueçamos as duas dimensões fundamentais da oração cristã: a escuta da Palavra e a adoração do Senhor, exortou Francisco.
Deixemo-nos conquistar pela beleza da Palavra de Deus
Concluindo sua reflexão, o Santo Padre apresentou algumas interrogações aos presentes, propondo-as também a nós para a nossa reflexão pessoal.
Deus – diz a Escritura – é «o próprio autor da beleza»: deixemo-nos conquistar pela beleza que a Palavra de Deus traz à vida, exortou por fim o Santo Padre.