De Mangabeiras ao Vergel, uma via de mão dupla une dois pontos cardeais em Maceió. A Avenida Leste-Oeste é o caminho que liga o mar e a lagoa, passagem onde muitos destinos se cruzam, ou se entrelaçam. Todavia, muito além do mapa e das limitações geográficas do mundo, há uma travessia mística em curso nestes dois extremos da Arquidiocese Metropolitana.
A transição entre as paróquias de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e Nossa Senhora Rosa Mística, iniciada nesta segunda semana de setembro, chega como final de inverno na vida das duas comunidades. Mas também sopra a esperança viva, como o germinar de uma nova primavera: semeada por uns, colhida por outros. Como mãos apertadas no desejo da Paz, os paroquianos cederam e receberam mutuamente os seus sacerdotes, num fluxo de caridade e obediência ao discernimento soberano do arcebispo Dom Antônio Muniz Fernandes.
Na segunda-feira, dia 9, o padre Antônio Marcos Tenório Cabral, tomou posse como pároco da Rosa Mística, em Mangabeiras, no lugar do padre Márcio Roberto dos Santos. E na terça, dia 10, foi a vez de Padre Márcio tomar assento na cátedra do seu amigo-irmão dos tempos de Seminário, Padre Marcos, na Perpétuo Socorro, do Vergel do Lago. Por princípio, houve susto. Foi um golpe na rotina paroquial. Mas um golpe de misericórdia para estes homens de Deus, preparados no “solo de heróis” do Seminário de Nossa Senhora da Assunção.
As celebrações foram marcadas por muita emoção, em ambas igrejas-templo. Na ausência do arcebispo, por motivo de viagem missionária, o vigário-geral, monsenhor José Augusto Melo, deu posse aos dois novos párocos, nas missas concelebradas com uma boa quantidade de padres, diáconos e seminaristas. Da procissão de entrada à benção final, houve uma profusão de manifestações de amor a estes sacerdotes, à Santa Igreja Católica e sobretudo a Deus.
Olhos brilharam, lágrimas correram, mãos se uniram, joelhos tocaram o chão e preces subiram ao Céu, para honra e glória de Nosso Senhor. Houve discursos, aplausos e procissão com os grupos, movimentos e pastorais. Encontros e despedidas. Flashes, fotos e foguetório, mas o que fica mesmo marcado é o fogo abrasador do Espírito Santo no coração do povo de Deus, do Corpo de Cristo, reunido e revivido, em duas paróquias, fiéis separados pela Geografia, de Leste a Oeste, mas unidos em um só coração, e prontos para superar quaisquer obstáculos.
Como ovelha neste rebanho, tive a Graça de testemunhar este intercâmbio, como servo da Pastoral da Comunicação e em missão pelo jornal O Semeador. Em meio à transição, reuniões com lideranças, estudos, missas e orações, Padre Marcos me recebeu na sala da Secretaria e Padre Márcio respondeu a perguntas pelo whatsApp. Segue abaixo, um trecho dos seus depoimentos, que podem ser vistos, na íntegra, nas mídias da arquidiocese e das paróquias.
Como foi sua experiência nesses 2 anos na Paróquia do Perpétuo Socorro?
Padre Marcos Tenório – Para mim, foi um momento de grande aprendizagem. De fato, eu compreendi aquilo que diz a Palavra de Deus: “É pelo fogo que é experimentado o ouro e a prata”. E fui experimentado pelo fogo, mas, graças a Deus, é um povo muito bom, de muito afeto aos seus sacerdotes. Porém, teve os seus desafios, mas Deus nos deu forças para passarmos por tudo isso e cantarmos a vitória de Deus em nossa vida. O Perpétuo Socorro marcou porque foi uma escola, uma grande escola. E agradeço a Deus essa passagem desses dois anos. Santo Agostinho diz que “até o mal que vem na nossa vida é para um crescimento maior”. Eu aprendi isso com Santo Agostinho. Até isso mesmo que veio foi para o crescimento da minha vida espiritual, de sacerdote. As calúnias, as perseguições edificam o nosso sacerdócio. É doloroso, mas edifica, edifica muito.
Qual a expectativa e os principais desafios para esta nova missão, no Vergel?
Padre Márcio Roberto – Vou para uma paróquia que me acolhe com muita alegria e esperança, e que deseja que o padre comece logo as obras, mas vou primeiro para ser pastor e não construtor. A construção certamente vai acontecer, mas com cautela, sem pressa e de forma bem pensada. A estrutura precisa ser catolicizada. E será feita em 5 etapas. Ali há a necessidade de ser pensar e fazer projeto acústico, projeto anti-incêndio, projeto hidráulico, de saneamento e projeto elétrico. E quando digo “catolicizar”, quero dizer: igreja com cara de igreja católica e que ao entrar conduza as pessoas para um verdadeiro encontro com o Sagrado. E os desafios serão: 1 – convencer algumas pessoas que a obra não pode ser feita “a toque-de-caixa”; 2 – trabalhar primeiramente a igreja humana, na conscientização de “ser igreja” mais do que estar na igreja. 3 – trabalhar a espiritualidade de comunhão e participação, compreendendo a igreja como povo de Deus, mas sem confusão de papéis na ordem hierárquica das coisas.
A obra física pode existir sem obra espiritual, sem a Igreja Povo de Deus?
Padre Marcos – Não se pode edificar o templo sem ter a Igreja Povo de Deus. A Igreja Povo tem de nascer primeiro. Padre Márcio está indo para o Vergel para continuar a Igreja Povo. E consequência da Igreja Povo é a edificação do templo, que, graças a Deus, ele também fez aqui (na Rosa Mística). Ele edificou o povo e consequentemente deu a beleza do templo.
Qual balanço o senhor faz da obra (física e espiritual) conduzida por Deus na Rosa Mística?
Padre Márcio – Depois de 9 anos à frente da Paróquia de Nossa Senhora Rosa Mística, saio satisfeito pelo pastoreio e por ter dado uma pequena contribuição na edificação espiritual, humana e física desta paróquia. Foram anos de muitos diálogos e troca de experiências. Foram várias correções fraternas que fizeram desta comunidade orante uma igreja viva, animada e pronta para evangelizar.
– Qual a sua expectativa para esta nova missão, na Rosa Mística, e como a comunidade tem lhe recebido?
Padre Marcos – Uma coisa que eu agradeço a Nosso Senhor foi a preparação do Padre Márcio, que soube muito bem preparar os filhos dessa paróquia para receber o seu novo vigário. Ao ponto que, desde o primeiro dia, na posse, eu já me senti muito bem acolhido. Os fiéis de Rosa Mística me acolheram de braços abertos, e tenho certeza que isso foi devido à preparação do sacerdote. Padre Márcio soube muito bem preparar essa comunidade
– Que mensagem de despedida o senhor deixa para os paroquianos?
Padre Márcio – A despedida foi feita com muito afeto e amor. Eu sentia, a cada dia e em todas as celebrações, nos festivais de prêmios, nas festas juninas. A palavra de despedida seria gratidão a todos por este carinho de filhos espirituais, de novos pais que Deus me deu para cuidarem de mim como cuidam dos próprios filhos, como irmãos de caminhada na fé, sempre de mãos unidas.