[ARTIGO] Festa da Divina Misericórdia, em Jesus e por Jesus

Por Pe. Sérgio Tenório de Oliveira | Paróquia

Nossa Sra. das Dores – Sta Lúcia

(Foto: Pascom NS_Dores)

A palavra misericórdia nos é bastante conhecida em seu significado: sentimento de pesar ou de caridade despertado pela infelicidade de outrem. Mas, é na pessoa de Jesus Cristo que essa palavra assume perfeito cumprimento.

Em Jesus, e por Ele, um casal em Caná da Galiléia consegue manter viva uma tradição nupcial judaica e se tornou pioneiramente beneficiado por um Messias cuja sua hora ainda não havia chegado( Jo 2, 1-12). Em Jesus, e por Ele, cai por terra uma segregação histórica entre judeus e samaritanos ( Jo 4, 1-10). Em Jesus, e por Ele, um paralítico, havia trinta e oito anos, encontra sua cura em Jerusalém às margens de uma piscina na qual nem precisou entrar (Jo 5, 1-8). Em Jesus, e por Ele, milhares de pessoas comiam fartamente de uma multiplicação de cinco pães e dois peixes (Jo 6,1-14). Em Jesus, e por Ele, a racionalidade de uma lei mosaica encontra compaixão e amor quando Jesus entra na casa de Zaqueu levando a salvação a quem estava envolvido por demais com o encanto do dinheiro injusto (Lc 19,1-10). Em Jesus, e por Ele, uma multidão assiste a comoção de um Deus feito homem que chora ao ver seu povo como “ovelhas sem pastor” (Mc 6, 30-34). Em Jesus, e por Ele, a viúva de Naim se alegra ao ver se levantar seu único filho cuja a morte iria lhe confinar à solidão e abandono (Lc 7,11-17). Em Jesus, e por Ele, sai Lázaro do sepulcro deixando a todos estarrecidos pois jazia há quatro dias (Jo 11, 1-46). Em Jesus, e por Ele, entendemos que misericórdia nunca pode ser dissociada   de amor e consequentemente de serviço, quando ao pegar uma bacia e uma jarra, lava indistintamente os pés de todos os seus discípulos (Jo 13,1-14). Em Jesus, e por Ele, no cume da cruz, aprendemos a perdoar nas situações mais extremas quando roga ao Pai do Céu que perdoe aos seus algozes pois “não sabem o que fazem” (Lc 23,34).

Num mundo arraigado pelo simplismo e “concepção líquida das coisas” (cf. Balman) tem-se a inclinação de se conceber misericórdia numa realidade dissociada de sua fonte que é o amor. Acredito que quem consegue essa façanha permite que a compreensão dos fatos inerentes permaneça somente no âmbito da intelecção. Dessa forma entendemos porque o ato de filantropia não assume o caráter da caridade (amor) e consequentemente não pode categorizar-se como misericórdia. Somente há caridade cristã quando qualquer gesto assume as prerrogativas do amor de Cristo numa doação incondicional, voluntária e cheia de misericórdia.

A Festa da Divina Misericórdia foi instituída por São João Paulo II a partir da profundidade mística de Santa Faustina Kowalska. A religiosa tinha desde a mais tenra idade o ardente desejo de santidade. É a um coração cheio de amor a Deus e ao próximo que Jesus manifesta a sua Misericórdia. Mais uma vez amor e misericórdia indissociáveis! O pesar do coração de Jesus em 13 de setembro de 1935 intermediava dois episódios altamente fatídicos, a saber, as guerras mundiais. Era, de fato, urgente que conhecêssemos as chamas do seu amor e da sua misericórdia! Exatamente quatro anos depois, a 13 de setembro de 1939, dava-se início a mais uma torrente de desespero, de sangue e de lágrimas. Foram as chamas de amor e os raios de misericórdias transmitidos a Faustina, quatro anos antes, amplamente divulgados e conhecidos, que nos livraram do aniquilamento. E apesar de tantas mortes e barbaridades ocorridas durante a segunda guerra mundial, foi a Misericórdia do Senhor que nos fez a tudo suportar!

Mas é no hoje, no aqui e no agora, que esta misericórdia não quer nos faltar! Talvez nos falte um coração de Faustina, ou, do próprio São João Paulo II que perdoou aquele que tentou contra a sua vida. Quando corações se abrem à misericórdia e ao amor, conhecem em profundidade o misterioso amor de um Deus que na sua INFINITA misericórdia se compadece de nós por não possuirmos a devida piedade. Reina em nosso tempo a impiedade exatamente o contrário da compaixão e da misericórdia! Reina em nosso tempo corações tomados pelo desejo de vingança. O mais grave de tudo isso é que, por vezes, ou na grande maioria, esses ressentimentos sem sentido são sentidos exatamente por quem não deveria sentir. Perdoe-me a repetição de palavras, mas elas se fazem para realçar o sentido e a intencionalidade do sentimento.

Afinal de contas, em que fica a Festa da Divina Misericórdia? Boa pergunta…. Ouso em responder que alguns celebram o que vivem e vivem o que professam! Glória a Deus! Não podemos permitir que os gloriosos raios de amor que emanam do Coração Misericordioso de Jesus sejam ensinamentos que estão longe de serem vividos. O mundo precisa colocar-se sob esse prisma! No sermão da montanha Jesus declara: Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia ” (Mt 5,7). A nós cabe o papel de sermos propagadores desse amor e dessa misericórdia. Envolvidos em Seu amor transformaremos o mundo a partir de um coração mergulhado na verdade e na justiça, jamais na hipocrisia!