O Espírito Santo e sua ação

Por Dom Genival Saraiva- Bispo Emérito

de Palmares-PE | vigário geral da Arquidiocese 

 

Numa de suas catequeses sobre os Padres da Igreja no ocidente, o Papa Bento XVI considera Santo Hilário de Poitiers “uma das grandes figuras de Bispo do século IV”. No Tratado que escreveu sobre a Trindade, Santo Hilário recorre à Palavra de Jesus, onde encontra o ensinamento sobre o Espírito Santo e sua ação na vida da comunidade e na vida das pessoas. “Escutemos o que diz a palavra do Senhor sobre a ação do Espírito em nós: Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de compreendê-las agora (Jo 16,12), É bom para vós que eu parta: se eu me for, vos mandarei o Defensor (cf. Jo 16,7). Em outro lugar: Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro Defensor, para que permaneça sempre convosco: o Espírito da Verdade (Jo 14,16-17). Ele vos conduzirá à plena verdade. Pois ele não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido; e até as coisas futuras vos anunciará. Ele me glorificará porque receberá do que é meu (Jo 16,13-14). Estas palavras, entre muitas outras, foram ditas para nos dar a conhecer a vontade daquele que confere o Dom e a natureza e a perfeição do mesmo Dom. Por conseguinte, já que a nossa fraqueza não nos permite compreender nem o Pai nem o Filho, o Dom que é o Espírito Santo estabelece um certo contato entre nós e Deus, para iluminar a nossa fé nas dificuldades relativas à encarnação de Deus. Assim, o Espírito Santo é recebido para nos tornar capazes de compreender. Como o corpo natural do homem permaneceria inativo se lhe faltassem os estímulos necessários para as suas funções – os olhos, se não há luz ou não é dia, nada podem fazer; os ouvidos, caso não haja vozes ou sons, não cumprem seu ofício; o olfato, se não sente nenhum odor, para nada serve; não porque percam a sua capacidade natural por falta de estímulo para agir – assim é a alma humana: se não recebe pela fé o Dom que é o Espírito, tem certamente uma natureza capaz de conhecer a Deus, mas falta-lhe a luz para chegar a esse conhecimento. Este Dom de Cristo está inteiramente à disposição de todos e encontra-se em toda parte; mas é dado na medida do desejo e dos méritos de cada um. Ele está conosco até o fim do mundo; ele é o consolador no tempo da nossa espera; ele, pela atividade dos seus dons, é o penhor da nossa esperança futura; ele é a luz do nosso espírito; ele é o esplendor das nossas almas.”

Jesus havia dito: “Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de compreendê-las agora (Jo 16,12),” Santo Hilário ensina essa verdade, ao dizer que “o Espírito Santo é recebido para nos tornar capazes de compreender.” Obviamente, essa capacidade de compreensão não diz respeito primeiramente ou tão somente à face intelectual do conhecimento; com efeito, a realidade revela que, quantas vezes e em quantos casos, pessoas com elevado grau de conhecimento não compreendem conteúdos da fé cristã ou situações do cotidiano; todavia, essas coisas estão ao alcance de pessoas simples que têm verdadeira sabedoria. Portanto, “essa capacidade de compreensão” diz respeito “às coisas do alto” e também ao “que é da terra” porque são valores que dizem respeito à vivência religiosa, à consciência coletiva, à responsabilidade cidadã, à vida e à dignidade humana, à justiça, aos direitos e deveres individuais e coletivos.

A ação do Espirito Santo produz o seu efeito quando as pessoas e a comunidade correspondem aos seus estímulos, mediante sentimentos, palavras e atitudes pertinentes. A comparação feita por Santo Hilário, no texto citado, é muito ilustrativa: “Como o corpo natural do homem permaneceria inativo se lhe faltassem os estímulos necessários para as suas funções – os olhos, se não há luz ou não é dia, nada podem fazer; os ouvidos, caso não haja vozes ou sons, não cumprem seu ofício; o olfato, se não sente nenhum odor, para nada serve; não porque percam a sua capacidade natural, mas por falta de estímulo para agir”. E acrescenta: “assim é a alma humana: se não recebe pela fé o Dom que é o Espírito, tem certamente uma natureza capaz de conhecer a Deus, mas falta-lhe a luz para chegar a esse conhecimento.”

Na celebração de Pentecostes, torna-se visível a ação do Espírito Santo na vida dos apóstolos que, de tímidos, se tornam audazes pregadores de Jesus Ressuscitado; essa ação está presente, igualmente, na vida da Igreja que, a partir daí, se abre ao mundo a ser evangelizado. A vida dos cristãos e a história da Igreja neste terceiro milênio testemunham a continuada ação do Espírito do Espírito, “Dom do Pai em Cristo”.