Mons. Rubião Lins Peixoto
O Senhor Jesus reuniu os doze, aos quais chamou de apóstolos. No entanto quis livremente colocar sua Mãe, a qual ministrou-lhe a natureza humana. Gerando-O no seu ventre Santíssimo pela potência criadora do Espírito Santo. Também nos gerou como membros do corpo eclesial quando na cruz o próprio Jesus disse: “Eis a tua Mãe”, entregando-A a João que representava toda a Igreja. A Igreja é Jesus Cristo continuado, cabeça e membros.
Em Belém fitou seu filho, abraçou-O, beijou-O, e com olhar materno, pareceu dizer: meu Filho e meu Deus. Os magos encontraram Jesus com Maria sua Mãe. Na ceia o Pão da vida que Ela gerou tornou-se alimento eucarístico para toda a Igreja. No templo de Jerusalém, quando parecia tê-lo perdido aos doze anos, encontrou-O e preocupada, deu-lhe um abraço dizendo: “Por que fizeste isso conosco? Teu pai e eu te procurávamos aflitos”. São João evangelista que na última ceia reclinou a cabeça sobre o ombro de Jesus, deixou escrito: “A vida manifestou-se e eu toquei nela” (cf. 1Jo 1). A própria Vida na carne foi gestada de Maria. A maternidade divinizou-se por que aquele que Maria teceu no seu ventre, chamou-se o Filho de Deus. E a Virgem maternizou a Igreja. Na cruz Ela mostrou seu rosto sofrido em comunhão com a dor do Filho. É discípulo(a) amado(a) de Jesus aquele ou aquela que ama também a Virgem Mãe, presente, que nos foi oferecido ao pé da Cruz. Seu rosto materno mostrou a dor da crucifixão de seu filho, manifestando o sofrimento moral. Toda mãe por vezes se aflige manifestando um rosto preocupado, mas logo se acalma. Assim acontece na vida da Igreja, atenta a todos e a tudo. Jesus volta ao Pai enquanto os apóstolos se reúnem a portas trancadas no cenáculo, com medo dos Judeus a espera do Espírito Santo. A delicadeza da narrativa dos Atos dos Apóstolos, acrescenta que a mãe do Senhor estava lá. Certamente encorajando o grupo apostólico, encorajando para a missão.
Sua missão materna tem universalidade. Todos recorrem a ela, agora e na hora da despedida deste mundo. Toda vida requer maternidade. Como é triste quando uma mulher renúncia a vida na suas entranhas e perpetua o aborto. São João Paulo II, dizia: “O útero materno é o sacrário da vida”. Maria disse sim a vida. A caminhada da Igreja contou sempre com a presença materna da Virgem e o olhar feminino, até que Cristo seja tudo em todos. O mundo cristão alimenta a esperança da vigilância materna de Nossa Senhora sobre nossas vidas. É Mãe e advogada nossa. Quando estamos com dificuldade, sabe interceder por nós a seu filho Jesus Cristo, dizendo como outrora nas bodas de Caná: “Não tem mais vinho”, apontando para Jesus as nossas necessidades, enquanto o Filho multiplica o vinho a seu pedido.
Por tudo isto, no meu artigo anterior, dirigí-me aos irmãos da Reforma Protestante, para reencontrar o rosto materno da Igreja. Martinho Lutero não descartou a Virgem na sua piedade. Foi devotíssimo da oração do Magnificat, a recitava diariamente, exaltando a Mãe do Senhor em sua virgindade e maternidade divina, tendo-a como sua Mãe na fé. Ainda é tempo de nossos irmãos evangélicos voltarem para a Mãe do Senhor, antes que congele o cristianismo, pois todas as gerações deverão proclamar Maria, bem aventura!