Estudo foi apresentado em congresso nacional e abordou a mobilização técnica e as atividades das paróquias no período de fechamento das igrejas.
Por Lucas Carvalho | estudante de jornalismo da UFAL
Foi apresentado nessa terça-feira (1º) o artigo científico “COVID-19 e a Midiatização da Religião: a fé no período de isolamento social”, que discutiu o trabalho da Pastoral da Comunicação da Arquidiocese (Pascom Arquidiocesana e de 50 paróquias), durante o fechamento das igrejas devido a pandemia, no 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom), que acontece de 1º a 10 de Dezembro e está sendo realizado, esse ano, na modalidade on-line. Nessa edição, o evento é organizado pela Universidade Federal da Bahia e reúne produções científicas inéditas, de vários níveis acadêmicos e de todas as regiões do país.
O artigo é resultado do minicurso “Da teoria à prática: as etapas para um artigo científico da Intercom”, que fez parte do Ciclo de Atividades Complementares do curso de jornalismo da Universidade Federal de Alagoas, ação que foi proposta frente à inatividade nos primeiros meses do isolamento social.
Trabalhando as teorias da comunicação aplicadas às soluções tecnológicas encontradas e aos meios explorados durante a necessidade de ficar em casa, Lucas Carvalho, estudante do sétimo período de Jornalismo na Ufal, procurou registrar o fenômeno da mobilização técnica e midiática que tomou forma a partir do decreto de Dom Antônio Muniz Fernandes, em 20 de março de 2020, e que movimentou as equipes de comunicação da Arquidiocese para a transmissão on-line da Santa Missa e das demais atividades que cada paróquia pode propor a suas comunidades.
Onde, naturalmente, um cenário de emergência social aboliria a responsabilidade do preceito e afastaria os fiéis das práticas comunitárias, agora aplicado numa cultura midiatizada e conectada a todo momento, a situação despertou novas soluções e formatos, guiados por um desejo profundo de estar juntos, vivendo a eucaristia em comunidade.
Cada paróquia se arquitetou como pode, de modo a estar com cada um dos seus paroquianos, dentro de suas casas. O próprio Arcebispo por sua vez, esteve diariamente on-line em diversas atividades, inclusive, na celebração diária da Eucaristia. Essas transmissões reuniram milhares de fiéis e reconfiguraram as comunidades virtuais católicas nas redes sociais.
Com a colaboração de Padre Francisco Guido e Cristiano França, da Paróquia Nossa senhora de Fátima, no bairro do Feitosa, assim como com a ajuda de Maria Cícera da Silva, coordenadora da comunicação arquidiocesana, e de todas as colaborações com o formulário on-line lançado para as Pascom’s das mais de cem paróquias da Arquidiocese, a pesquisa está agora no acervo de um dos principais congressos de comunicação do país e deixa registrado para a posteridade o trabalho de todos aqueles que se dedicaram para que suas comunidades não perdessem o contato com Jesus Eucarístico, mesmo distantes do templo físico, fazendo de nossas casas, e de nossas famílias, verdadeiras igrejas domésticas.
Midiatização da religião
O termo “midiatização” foi cunhado dentro dos estudos de comunicação para nomear um fenômeno histórico, do mesmo gênero da industrialização e da globalização, que é a caminhada da evolução dos meios de comunicação relacionada às transformações das práticas sociais.
Para esses estudiosos, há uma dupla influência onde as necessidades sociais pedem novas tecnologias, e, ao mesmo tempo, a evolução tecnológica abre novas possibilidades para as práticas sociais. Esse fenômeno histórico de evolução das mídias interfere nos hábitos culturais e é simultaneamente moldado por eles e pelo que é assimilado pelos usuários.
Nesse contexto, há autores que observam essas assimilações midiáticas por parte das religiões, e se preocupam em entender como a religião negocia sentidos e se apropria de formatos como a televisão e a internet e o que isso significa do ponto de vista comunicacional.
Já na pandemia do novo coronavírus, essa perspectiva encontra um palco de relações novas que passam a protagonizar o vínculo entre o fiel e o sagrado, durante o período em que a única vivência do preceito, e meio de participar da Santa Missa, é através da mediação midiática.
A vocação da mídia de expandir as possibilidades da nossa comunicação, e o retrato que faz de Santa Clara de Assis a padroeira da televisão, leva a atentar para esse episódio enxergando a potencialidade comunicativa que leva pesquisadores como Mc Luhan (um nome clássico nos estudos sobre os meios de comunicação) a entender esses meios como extensões do ser humano, e como os novos púlpitos para proclamar sobre os telhados, como indicava Paulo VI na Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi.
Resultados
51 equipes, dentre Pascom’s e grupos de emergência feitos para gerir as transmissões durante a pandemia, participaram da pesquisa. A partir dos dados e entrevistas coletadas, pôde-se desenhar mais claramente o que aconteceu no tocante aos meios usados e aos fenômenos virtuais que acompanharam a busca de todas as pessoas que, voluntariamente, deram seu tempo e atenção em fazer chegar a todos a Santa Missa.
A maior parte (42,9%) das equipes disse ter se aprimorado para melhorar a transmissão da missa ao vivo, como foi o caso da Paróquia de Fátima. De uma transmissão pontual, em algumas solenidades, a transmissões diárias, dois horários dominicais, aquisição de interface de áudio, webcam, um notebook melhor para administrar os novos equipamentos e o uso de software de transmissão, com geração de caracteres e troca de câmeras, com transmissão simultânea no Instagram e no Youtube, depois de conseguir bater a marca dos mil inscritos necessários para a transmissão ao vivo na plataforma. Outros 34,7% dos participantes disseram ter começado a prática da transmissão do zero.
As plataformas escolhidas e mais usadas nas transmissões seguem as tendências de uso dos ambientes virtuais sob efeito de rede no Brasil, ou seja, os portais que monopolizam maior número de usuários. Além das principais redes sociais (Instagram e Facebook), o Youtube, principal portal de consumo de vídeos e streaming, foi buscado pela parcela das equipes que se engajaram em mobilizar a comunidade necessária para começar as transmissões. Quase todas as equipes que usaram o Youtube (cerca de 80%), começaram a usar, ou até criaram o canal, a partir das necessidades da pandemia.
Uma certa tendência de aquisição de novos equipamentos também pode ser registrada, como comenta Cristiano França, da equipe da Pascom da Paróquia do Feitosa. Ele explica que “foi tudo muito amador”, e revela como o grupo reagiu às necessidades que surgiram. “Eu dizia ‘Otavio a gente tem que profissionalizar’, e a gente foi indo por etapas. Se você acompanhar hoje e comparar com o começo, ta excelente!”.
No entanto, a grande maioria das transmissões se deu mesmo nas redes sociais e através do celular, marca de um voluntariado capaz e disponível, como destaca a coordenadora da Pascom Arquidiocesana: “Na nossa caminhada, aprendemos a sempre dar o melhor e da melhor forma, então se temos apenas um celular, é ele que iremos usar para fazer a Boa Nova chegar a todos”.
O artigo completo está disponível em http://www.intercom.org.br/sis/eventos/2020/resumos/R15-0896-1.pdf