Lara Tapety | Ascom CPT
Com o tema “Comunidades camponesas: guardiãs dos bens comuns”, aconteceu nesta semana, entre os dias 29 e 31 de março, a 32ª Assembleia Estadual da Pastoral da Terra de Alagoas. Dezenas de camponesas e camponeses foram acolhidas no Centro Diocesano de Palmeira dos Índios.
Os representantes de acampamentos e assentamentos de luta pela terra da zona da mata, do litoral e do sertão alagoano, debateram sobre a situação da questão agrária em Alagoas e no Brasil, partilharam as experiências de projetos produtivos e refletiram a respeito do que fazer diante da realidade
Confira a seguir a carta das comunidades camponesas!
Carta da 32ª Assembleia Estadual da Pastoral da Terra de Alagoas
“Comunidades camponesas: guardiãs dos bens comuns”
“Derruba do trono os poderosos
e eleva os humildes;
aos famintos enche de bens
e despede os ricos de mãos vazias.”
Lucas 1:52 e 53
Nós, camponesas e camponeses, vindos das comunidades guardiãs dos bens comuns, em acampamentos e assentamentos da região do litoral, da zona da mata e do sertão, reunidos na 32ª Assembleia Estadual da Pastoral da Terra de Alagoas, acolhidos pela Diocese de Palmeira dos Índios, cantamos e reafirmamos a nossa missão cristã de cultivar e cuidar da Mãe Terra.
Mais uma vez, percebemos que o capital impõe uma agenda devastadora para os povos da terra, das águas e das florestas, tendo como instrumento o governo genocida de Jair Bolsonaro, sustentado pelas bancadas mais conservadoras do Congresso Nacional, a exemplo das bancadas “ruralista” e “da bala”. Neste contexto, acompanhamos o empenho desses setores pela aprovação da “PL do Veneno” que pretende avançar em diferentes frentes: desde o aumento dos agrotóxicos até a grilagem de terras; sobre os territórios tradicionais, sejam camponeses, indígenas ou quilombolas.
Trazendo a reflexão para o estado de Alagoas, observamos as invasões dos territórios agrícolas com crescimento de pastagens, eucalipto e até de soja, apesar de ainda predominar o plantio da cana-de-açúcar, cada vez mais decadente. A expansão dessas novas monoculturas pode ser explicada pelo perímetro denominado SEALBA (Sergipe, Alagoas e Bahia), que visa ampliar as terras do agronegócio destinados à commodities, como a soja, além do avanço do milho transgênico nas regiões agreste e sertão.
Nós, comunidades camponesas, denunciamos que a grilagem e o agronegócio são opostos à vida. Pedimos perdão pelos crimes da humanidade contra o meio ambiente e gritamos pelo fora Bolsonaro, mas especialmente, por um basta de projetos de morte!
Como nos trouxe a camponesa Eunice, “sem fé, não há luta”, pois é a fé que alimenta a caminhada do povo, trazendo como exemplo os tempos de fome vividos nos anos 90, lembramos das ações de solidariedade, como os mutirões para produção de multimistura, para aplacar a desnutrição infantil e também momentos de união, vividos nos saques, que saciaram a fome de muitos, tempos atrás.
Hoje, avançando nos processos de solidariedade, está sendo vivida a construção do SPG Bem Viver (Sistema Participativo de Garantia), a partir da iniciativa da Rede Mutum, mas sendo conduzida, na prática, por camponesas e camponeses que buscam mais um espaço de expressão de fé e luta. Com união e partilha, avançamos, também, no escoamento da produção da agricultura familiar camponesa alagoana, bem como na divulgação da agroecologia, da produção de alimentos sadios, frutos da justiça social, e acima de tudo, na construção de um projeto em favor da vida.
Somos comunidades camponesas: guardiãs dos bens comuns! Lutaremos sempre pela terra! Lutar pela terra é lutar pela vida!
Palmeira dos Índios, 31 de março de 2022.