[ARTIGO] COVID-19 e Semana Santa (I)

A humanidade vive uma experiência, universalmente compartilhada, sem precedentes na história, qualquer que seja o ângulo de sua visualização, qualquer que seja o aspecto de sua consideração. Na história das civilizações, obviamente, há registros de fatos, situações que foram compartilhadas, positiva ou negativamente, a exemplo de guerras, calamidades, epidemias. Houve casos de pandemia. Todavia, em nenhum desses registros, identificam-se elementos característicos do Covid-19, como rapidez na disseminação geográfica e social, a extensão do problema e a simultaneidade no enfrentamento da pandemia. Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), a pandemia chegou a todos os continentes, a praticamente todos os países. A extensão é uma das características mais visíveis dessa pandemia porque envolve países ricos e pobres, atinge a economia de todas as nações, afeta a estrutura/organização/funcionamento das instituições, interfere na vida de todas as pessoas. Assim, a pandemia do novo coronavírus fala a todas as pessoas que manifestam suas reações, perplexidades, dúvidas, incertezas, ante o reconhecimento da fragilidade humana no presente e a insegurança em face do amanhã.

O cristão e a realidade temporal

Tendo consciência da dimensão eterna da sua existência, por serem membros da “cidade terrestre”, os cristãos vivem a realidade temporal, sustentados pela fé. Em sua relação com Deus, os cristãos contam com a fé que é uma virtude teologal. As virtudes teologais – fé, esperança e caridade, “têm como origem, motivo e objeto imediato o próprio Deus. São infundidas no homem com a graça santificante, tornam-nos capazes de viver em relação com a Trindade e fundamentam e animam o agir moral do cristão, vivificando as virtudes humanas.” Nenhuma pessoa pode prescindir da fé, enquanto busca sua comunhão com Deus, em qualquer circunstância. É oportuno fazer a observação sobre a importância da fé, no momento atual, diante do enfretamento do problema do novo coronavirus, um doloroso e preocupante capítulo da história da humanidade que está sendo escrito pela maioria dos países. Humanamente, ao considerar este problema, cada pessoa revela o seu estado de espírito, expressão da “situação emocional” a que é submetida, conforme as circunstâncias.

Semana Santa

A liturgia soleniza as celebrações da Semana Santa, dando especial atenção ao valor espiritual e ao fruto pastoral da face do mistério de Cristo que está sendo celebrado. Em razão do mistério que a Igreja celebra, “A Semana Santa é a semana das semanas”. Na espiritualidade da Igreja, no calendário litúrgico e na vivência religiosa dos fiéis, a Semana Santa ocupa um lugar especial. Precedida pelo Tempo da Quaresma, que faz parte do Ciclo da Páscoa, celebrada, solenemente, no Tríduo Pascal – Quinta Feira Santa, Sexta Feira Santa e Sábado Santo –, a Páscoa cristã, desde os primórdios do cristianismo, sustenta a vida dos cristãos, em sua condição de caminhantes, de peregrinos.

Semana Santa 2020

A Semana Santa de 2020 tem um rosto próprio, sob muitos aspectos, diante da realidade do Covid-19, entre os quais a necessidade de realizar as celebrações a portas fechadas. Entende-se logo que não se trata de uma decisão simples, considerando o peso da história, a força da Tradição e a vivência do dia a dia. Os fiéis sentem falta de sua Igreja, de sua comunidade; os ministros ordenados sentem falta de seus fiéis, de sua presença, de seus serviços. Todos sentem falta da alimentação da vida sacramental e de outras formas de fortalecimento da vida pessoal e comunitária.

Consciente de sua responsabilidade perante a população, a Igreja católica, nas diversas instâncias – Santa Sé, Conferências Episcopais, Dioceses – adotou esta e outras providências, ao acolher disposições normativas do poder público competente, de modo particular, em relação ao isolamento social. Nesse contexto, a comunidade cristã está sendo chamada pela Igreja a viver a Semana Santa, da melhor forma possível, acompanhando as celebrações, através das Redes Sociais, graças aos serviços da Pascom Paroquial.

Domingo de Ramos

No Domingo de Ramos, fala aos fiéis a acolhida festiva ao Servo Sofredor. Abençoados os Ramos, na sua oração, pede a Igreja: “Apresentando hoje ao Cristo vencedor os nossos ramos, possamos frutificar em boas obras. Mesmo sendo o início alegre e festivo da celebração da Páscoa, este Domingo é vivido com a linguagem da Paixão do Senhor, com o invoca a Igreja, na oração coleta: “Concedei-nos aprender o ensinamento da sua paixão e ressuscitar com ele em sua glória.”

Segunda, terça e quarta feira da Semana Santa

Bíblica e liturgicamente, estes dias têm uma significação especial e uma importância própria dentro da Quaresma porque oferecem aos fiéis uma preparação próxima para o Tríduo Pascal. “Nestes três dias, Jesus e Seus discípulos estavam preparando-se para celebrar a Páscoa. Nestes primeiros dias da Semana Maior, fazemos grandes celebrações lembrando a Paixão de Jesus, o Encontro d’Ele com Sua Mãe e as dores dela. […] Então, estes três dias recebem o qualificativo de ‘santos’, porque a Misericórdia de Deus se manifesta de uma maneira muito especial.”

Dom Genival Saraiva

Bispo Emérito de Palmares – PE