Nessa terça-feira (15), fiéis se reuniram para dar adeus após local histórico ser afetado por rachaduras.
Por Marcos Filipe | Pascom Arquidiocesana
Era por volta das 14h40 quando a equipe da Pastoral da Comunicação chegava à matriz de Santo Antônio, no bairro de Bebedouro, na ensolarada tarde, desta última terça-feira (15). Entrando no templo, as sensações se misturavam nas faces dos presentes. Do sorriso ao choro, do abraço ao aperto de mão. Todos estavam ali para se despedir da igreja matriz que fechava as suas portas após quase 150 anos de história.
Assim como as paróquias de Nossa Senhora do Bom Parto e Menino Jesus de Praga, a antiga igreja e o bairro ao redor foram afetados pelas rachaduras causadas pela extração de anos da salgema, atualmente feita pela mineradora Braskem.
Não havendo mais ninguém morando na região, não se podia mais ouvir as conversas na praça Lucena Maranhão, o barulho das crianças no Colégio Bom Conselho, e nem o som das buzinas do trânsito, que ligava a parte alta e baixa da capital. Era hora de Santo Antônio dar a sua última bênção à região que ele protegeu.
Dos 25 anos como sacerdote do Cônego Walfran Fonseca, 18 foram vividos na paróquia, e como ele mesmo disse: “Santo Antônio me moldou, me fez padre”.
“É um marco para a história desta paróquia, pois nos despedimos desse templo que tanto serviu ao povo de Deus por mais de um século, nessa vivência da fé católica nesse chão”, disse.
Ele também falou de esperança: “Momento de tristeza, mas iluminado pela fé na ressurreição, pela vitória de Cristo, da Luz que ganha das trevas. Essa fé marca nossos passos de esperança e a certeza de que Deus nunca nos abandonou, e em cada passo, sentimos sua presença firme a guiar o povo”.
A missa foi celebrada com a igreja lotada e na praça, mais pessoas acompanharam. A imagem do padroeiro foi retirada do altar e seguiu em procissão pelas ruas do bairro. Para cada casa fechada, uma família retornou para saudar Santo Antônio e a história de fé do bairro de Bebedouro. Uma multidão que seguiu até a nova matriz provisória, na Chã de Bebedouro.
Os filhos do senhor Alecy Amorim cresceram no bairro, ao lado da igreja matriz, e foi nela que ele transmitiu a sua fé para a família.
“Estamos passando essa tristeza, mas pedindo que Santo Antônio interceda para que tudo dê certo. A população tem sofrido muito em consequência dos danos causados pela mineração. Colegas que morreram de AVC, outros depressivos. Essa é uma pequena homenagem à história de Bebedouro”, explicou.
Já a história do Cícero Araújo começa ainda no seu batizado, que ocorreu no local, celebrado por um padre chamado Fernando Iório, que se tornaria bispo da Diocese de Palmeira dos Índios.
“Fui batizado com 12 anos, e logo depois, continuei participando e ajudando na capela de São Pedro, onde tivemos que sair também. Uma dor grande para todos, e ainda sentimos. Foram muitas festas, vias-sacras, todos se envolviam por amor”, recordou.
A esperança da continuidade da paróquia também era presenciada na quantidade de jovens que estavam presentes, como Patrícia Magalhães da Congregação Mariana.
“Desde pequena fui me engajando na paróquia e me lembro correndo na Catequese, da presença nas missas. Isso tudo foi um tiro no coração. Mas percebemos que Bebedouro ainda está vivo e os ex-moradores sempre estão aqui mantendo a história viva”.
O mesmo sentimento tem o jovem Júnior Dantas do EJC: “Crescemos juntos ao lado da igreja matriz. Tudo no bairro girava no entorno dela. Rezamos para que Deus conforte as famílias que perderam algo nessa tragédia e que possamos manter viva a história da nossa paróquia”.