Entrevista de Gabriella Ceraso ao penitencieiro-mor, cardeal Mauro Piacenza, a propósito do Decreto da Penitenciaria Apostólica sobre as Indulgências Plenárias.
Mariangela Jaguraba – Vatican News
Em entrevista ao Vatican News, o penitencieiro-mor, cardeal Mauro Piacenza, se detém nos detalhes das novidades introduzidas pelo novo Decreto “a fim de evitar aglomerações onde são proibidas” e sobre as referências particulares contidas no documento em relação aos doentes e idosos, mas também aos sacerdotes, todos protagonistas, de formas diferentes, deste período extremamente difícil.
Cardeal Piacenza: A tradição codificada é a da indulgência plenária em cada dia do Oitavário de 1° a 8 de novembro, para todos aqueles que visitam os cemitérios, rezando pelos defuntos, e em 2 de novembro, a visita a uma igreja ou oratório recitando o Pai-Nosso e o Credo. Este é o padrão. A partir daí, levamos em consideração as normas emitidas pelas diversas autoridades civis dos vários Estados, a fim de limitar aglomerações neste tempo de pandemia. Muitos presidentes das Conferências Episcopais nos perguntaram o que fazer para atender às necessidades dos países onde esta devoção é muito vivida, na verdade, é talvez aquela com o maior número de confissões e comunhões durante o ano. Então, o que fazer se não podemos sair de casa ou se a saída é fortemente limitada? Por esta razão, considerando que em muitos lugares a comemoração dos defuntos é muito sentida e se expressa sobretudo na Santa Missa e na visita aos cemitérios, pensou-se em diluir no tempo a possibilidade de usufruir das indulgências e assim, durante todo o mês de novembro, será possível adquirir o que era previsto para os primeiros 8 dias de novembro. Então, as pessoas poderão adiar as visitas sem criar uma multidão. Recordamos que a indulgência lucrativa no dia 2 de novembro na igreja pode ser adquirida em qualquer dia do mês, e esta é a segunda nova possibilidade, a segunda abertura que introduzimos, com a oração do Pai-Nosso e do Credo, deixando a livre escolha do dia aos fiéis.
Um pensamento especial no Decreto dirige-se aos doentes e aos idosos, em que termos?
Cardeal Piacenza: Quem não pode sair, talvez porque está em isolamento ou porque está doente, poderá obter a indulgência rezando diante de uma imagem de Nosso Senhor ou da Bem-aventurada Virgem, rezando, por exemplo, as Laudes, as Vésperas do Ofício dos Defuntos, o Rosário, o Terço da Divina Misericórdia ou orações mais usuais para cada tradição, ou também fazer uma leitura meditada do Evangelho de uma das três Missas previstas para os fiéis falecidos e, por fim, oferecer obras de misericórdia. Quanto ao resto, as indicações são as já emitidas pela Penitenciaria em 19 de março passado, por exemplo, no caso de doentes graves, na nota que apontava para a possibilidade de uma assistência mais próxima aos doentes, mesmo sem presença física.
O decreto se dirige também aos sacerdotes para os quais são fornecidas recomendações específicas…
Cardeal Piacenza: Sim, há um pensamento particular também para os sacerdotes que convidamos a uma disponibilidade mais ampla possível, já que a maior riqueza que temos para o sufrágio dos defuntos é a Santa Missa. Desde 2 de novembro de 1915, por uma Constituição de Bento XV, os sacerdotes têm a faculdade de celebrar três Santas Missas. Então nós os exortamos, na medida do possível, a celebrar as três, mesmo porque mais missas significa menos aglomerações e esta poderia ser uma forma de ajudar os fiéis. Os sacerdotes também são exortados a serem generosos no Ministério das Confissões e a darem a Sagrada Comunhão aos enfermos, de modo a terem mais disponibilidade para sufragar os seus defuntos, senti-los próximos, ir ao encontro de todos esses nobres sentimentos que compõem a Comunhão dos Santos.
Como os fiéis podem ser ajudados a viver intensamente a comemoração dos mortos, mas também a Solenidade de Todos os Santos?
Cardeal Piacenza: Algumas pessoas se acostumaram um pouco às celebrações na televisão, e embora isso seja uma coisa boa, especialmente para os idosos que não podem sair, pode marcar um certo descontentamento com a presença nas celebrações. Há, portanto, uma busca nos bispos a fim de implementar todas as soluções possíveis para trazer as pessoas de volta à Igreja sempre com respeito por tudo o que precisa ser feito para a situação particular na qual infelizmente nos encontramos. Agora, a Solenidade de Todos os Santos é também uma solenidade educativa para as famílias que muitas vezes comemoram os mortos juntos.
Há uma forte ligação entre essas duas celebrações…
Cardeal Piacenza: São muito unidas, juntas formam a festa do ser a família de Deus. No Paraíso há todos os santos canonizados que conhecemos, mas também há muitos rostos que não conhecemos, que viveram uma vida cristã, em silêncio, sem nenhum clamor e nos quais os holofotes deste mundo não foram colocados. Assim, com todos eles, parentes, amigos, vizinhos que fazem parte da família no céu, a pessoa se encontra na família de Deus. Há uma bela passagem de Isaías que diz que Deus escreveu o nosso nome na palma de sua mão, para dizer como Ele nos mantém próximos, e a Solenidade de Todos os Santos expressa tudo isso. E mais, todos os nossos mortos podem estar no povo do Paraíso. Assim, a Solenidade dos Santos é uma abertura de visão que, acompanhada pela comemoração dos defuntos e pela visita aos túmulos, nos dá uma noção do vínculo. Com a morte, a vida não é tirada, mas transformada e nós mantemos uma relação com quem morre, uma relação que não é mais física, mas é uma relação real, talvez ainda mais real, porque não há nem mesmo o limite de tempo e espaço. Na Comunhão dos Santos a pessoa que passou para a eternidade pode estar num vínculo muito especial conosco que estamos aqui. Por isso, acredito que este é outro aspecto que não devemos perder ou melhor reinventar onde está um pouco opaco.
No pensamento de nossos defuntos, traduzimos toda nossa fé em Cristo ressuscitado: é nossa esperança que os irmãos atualmente não visíveis entre nós estejam em comunhão com o Senhor. Somos chamados nestes dias a reacender nossa certeza na glória e na bem-aventurança eterna, e pedimos com humildade e confiança o perdão para aqueles que nos deixaram, para as suas pequenas ou grandes faltas, aqueles que já estão salvos no amor de Deus, e renovamos nosso compromisso de fé. Afinal, o Paraíso é a casa dos servos fiéis. Todos nós poderemos um dia viver felizes na luz de Deus, desde que tenhamos acreditado não apenas em palavras, mas também em obras. Este é o pensamento que eu gostaria de deixar.