Celebração e comemoração

Dom Genival Saraiva de França
Bispo Emérito de Palmares – PE
Vigário Geral da Arquidiocese de Maceió-AL

O calendário religioso e civil contém datas que são objeto de celebração e de comemoração. Assim, anualmente, com um olhar de esperança, o povo celebra o Natal de Jesus e comemora a chegada do Ano Novo. As pessoas têm isso muito presente no coração, como as instituições o têm nas suas agendas. Obviamente, cada ano deixa sua marca nos sentimentos humanos e nas programações institucionais. Por muitas razões, todas as pessoas fazem uma leitura própria de 2020, bem como todas as instituições. De uma maneira ou de outra, cada pessoa vê a face peculiar de 2020 na sua própria vida, na daqueles que estão ao seu redor, das que fazem parte do seu círculo de amizade e do mundo do trabalho. Em momento algum da sua história, a humanidade foi atingida por um mal, como a pandemia do coronavírus, cujos registros são alarmantes, em parte de 2019, em 2020 e, por certo, ainda serão em 2021, consideradas a sua extensão e a sua gravidade. As estatísticas atestam isso diante de mais de um milhão de mortes no mundo e sequelas dolorosas em mais de setenta milhões de infectados. No Brasil, está próximo o registro de duzentas mil mortes pela covid-19 e passam de sete milhões os casos de infecção.

Com sua solicitude, a Igreja prepara os fiéis para a celebração do Natal, ao longo do período do Advento que é rico na sua espiritualidade, com forte apelo à conversão, fértil nos seus simbolismos litúrgico-sociais e, pastoralmente, propício para a vivência comunitária. Como nesse contexto de pandemia mudou muita coisa na vida das pessoas e no comportamento coletivo, “três atitudes podem nos ajudar a viver melhor esta festa tão importante do calendário cristão de uma maneira toda diferente, mas repleta de fé e amor.” Uma primeira forma, praticada no Brasil, há muitos, graças à inciativa da CNBB, é a celebração da Novena de Natal, reunindo grupos de família, nas comunidades. “Este ano, você é encorajado a se reunir virtualmente com o seu ‘grupo’ da Novena ou com sua família imediata, a que mora na mesma casa que você e que é sua Igreja doméstica.” A solidariedade é outra expressão do espírito do Advento: “O Natal de 2020 poderá ser mais difícil para muitas famílias, especialmente, as que passam por dificuldades materiais. […] Somos convidados a manifestar ainda mais a nossa solidariedade e compaixão com as campanhas natalinas. Procure se informar onde estão precisando de doações, existem muitas formas de ajudar mesmo sem sair de casa.” Uma vez que uma intensa propaganda comercial induz ao consumismo, a Igreja ensina que “Jesus nasceu na simplicidade e sua mensagem não tem nada a ver com consumismo. […] Aproveite a pandemia, que já nos fez refletir muito sobre o que é realmente importante em nossas vidas, para rever seus hábitos de consumo no Natal.”

Com o aumento da contaminação do coronavírus em muitos países, inclusive no Brasil, e consequente necessidade de hospitalização, cuidados especiais devem ser observados pelas pessoas, mudanças significativas devem ser incorporadas ao comportamento coletivo e políticas públicas devem ser mantidas ou reaplicadas, sob pena de um agravamento da pandemia no período das “festas de fim de ano”. Por tudo isso, a população das Alagoas precisa “fazer a sua parte”, porque se trata de responsabilidade coletiva. Na sua jurisdição, a Arquidiocese de Maceió, mediante pertinentes orientações pastorais, adotou medidas administrativas junto às Paróquias e a outras instâncias, visando a preservação da saúde do povo, de conformidade com os protocolos emanados das políticas públicas, nos níveis federal, estadual e municipal.

Mesmo em meio a esse quadro de adversidade social, a Arquidiocese de Maceió, confiada à proteção de Nossa Senhora dos Prazeres, encontra motivos significativos para uma consciente Ação de Graças a Deus, neste Ano Jubilar da comemoração dos cem anos de sua elevação à condição canônica de Sede Metropolitana, cujo coroamento é a Ordenação de sete novos Diáconos transitórios e de cinco novos Presbíteros. Como Santa Teresinha do Menino Jesus, a Arquidiocese exclama: “Tudo é graça”!

Que o Natal seja vivido e celebrado, na forma liturgicamente prevista, em vista do bem espiritual dos fiéis, e que a chegada do Ano Novo seja comemorada, na forma socialmente determinada, em vista do bem comum.