Congregação das FSCJ encerra Jubileu de ouro de sua chegada na Arquidiocese de Maceió

OS 50 anos que marcam a presença das religiosas no Nordeste, em especial na Arquidiocese de Maceió, está sendo celebrado de forma pontual e nas comunidades onde elas evangelizam.

*Por Ir. Odete de Moura – fscj

“…procurem sempre o bem uns dos outros e de todos (1Ts 5, 15b).
Dêem graças em todas as circunstâncias,
porque esta é a vontade de Deus a respeito de vocês em Jesus Cristo (1Ts 5, 18);
examinem tudo e fiquem com o que é bom” (1Ts 5, 21).

 

(fotos: Arquivo pessoal da Congregação)

No próximo domingo, 18 de julho, as Irmãs FILHAS DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS encerrarão a celebração do JUBILEU DE OURO DE CHEGADA EM ALAGOAS E DE PRESENÇA MISSIONÁRIA no Nordeste, Norte e Centro-Oeste do Brasil.

No último dia 14 de julho, as religiosas participaram de uma Celebração Eucarística em Ação de Graças; presidida por Frei Ramos e concelebrada por padres da Área Norte. A missa foi realizada, na Cooperativa em Maragogi, com participação restrita de fiéis, além das religiosas, devido as orientações nessa pandemia do novo coronavírus.

A comemoração tem a marca bíblica de celebrar um jubileu: tempo de contemplar a história como evento salvífico, como reconhecimento da bondade e misericórdia de Deus para com seu povo; tempo de alegre consciência do perdão por falhas constatadas ao longo do caminho; tempo de esperança-certeza de novas respostas possíveis, a partir das lições que a retomada histórica possibilita.

 As FSCJ foram acolhidas no Nordeste Brasileiro no início da década de 70, ainda marcada pela ditadura militar, com intenso anseio do povo por justiça e paz, em todos os sentidos, formas e espaços. A decisão do envio para esta região de Alagoas foi uma resposta ao desafio missionário da Congregação de se expandir, de alargar fronteiras, atendendo também aos apelos da Igreja feitos aos religiosos de todas as Congregações, no clima esperançoso de pós-Concílio Vaticano II.

Na época, Dom Adelmo Cavalcante Machado era Arcebispo da Igreja de Maceió, tendo como Bispo auxiliar, Dom Eliseu Gomes de Oliveira. No desejo de intensificar a promoção humana e a evangelização na Área Norte do Estado onde era grande a pobreza, Dom Eliseu foi ao Rio Grande do Sul em busca de Padres que animassem o trabalho missionário. Não tendo conseguido sacerdotes, foi aconselhado a dirigir-se às FSCJ. Providencialmente, encontrava-se no Brasil a Superiora Geral da Congregação que viu nesse pedido a oportunidade de responder ao anseio missionário de expansão da Congregação: “ir a onde a necessidade é maior” e ser “igreja em saída” sonhos já alimentados pelos Fundadores, Monsenhor Giuseppe Benaglio e SantaTeresa Verzeri.

Assim, a partir de uma consulta às Irmãs da região sul do país, quatro foram escolhidas como pioneiras da nova missão, entre tantas que se dispuseram a partir: Ir. Nazarena Missio, Ir. Anna Maria Canci, Ir. Ritta Basso, Ir. Zélia Fronza.

Depois de um preparo inicial, de conhecimentos básicos para a inserção na nova realidade e para assumir com competência os necessários serviços a serem prestados na nova missão, no dia 03 de março de 1971, após uma Missa de envio, as Irmãs partiram de Porto Alegre rumo a Maceió.

As quatro Missionárias, acompanhadas por Dom Eliseu, chegam em Maceió no dia 14 de março de 1971. Como a casa escolhida para sede do primeiro núcleo da missão, ainda não estava pronta, as Irmãs ficaram hospedadas na sede do Arcebispado até o dia 18 de julho, quando partem para Maragogi onde a Missão é oficialmente iniciada, recebendo a denominação de “Centro de Comunidade Santo Antônio”.

A celebração eucarística foi o ponto alto da solenidade. Estavam presentes diversos sacerdotes e religiosos da arquidiocese, bem como representantes do Governo do Estado, uma vez que se lançava, nessa ocasião, o “Plano de Desenvolvimento Integrado da Região Norte” onde as Irmãs também atuariam, no contato direto com as mais diversas realidades, necessidades e possibilidades da sociedade civil da época.

Na homilia, Dom Eliseu destaca: “Estas religiosas pioneiras vieram para um  trabalho específico de evangelização e de promoção humano-social, numa participação mais concreta e vivida com nosso querido Estado de Alagoas, no sentido profundo de VIDA CONSAGRADA, atraindo as bênçãos de Deus para a autopromocação deste povo, para os mais necessitados, pois elas fazem seus os nossos problemas, principalmente  os mais cruciantes”.

Para ajudá-las a conhecer o vasto campo a elas destinado, os 16 municípios da Região Norte do Estado, (Maragogi, Japaratinga, Porto de Pedras, São Miguel dos Milagres, Porto Calvo, Passo de Camaragibe, Matriz de Camaragibe, São Luíz do Quitunde, Barra de Santo Antonio, Paripueira, Colônia Leopoldina, Jundiá, Novo Lino, Flexeiras, Campestre, Joaquim Gomes) foram organizadas visitas, rápidos estágios e as assim chamadas “Semanas Pastorais” em que, como Igreja “acampada” as Irmãs eram acolhidas nas famílias, fazendo a experiência de montar e desmontar “tendas”, conforme um planejamento e um calendário definidos participativamente.

Assim, logo elas encontraram um povo sedento de “evangelho”: de boas novas, de mudanças, de mais vida, com a disposição de aprender e ensinar, de participar, de colocar em prática seus dons pessoais e as riquezas da própria cultura. Tiveram, também, diante dos olhos e acolheram no coração uma realidade gritante que as desafiava para a presença e atuação em sítios, usinas e engenhos, no contato com pescadores e marisqueiras, com mães e crianças numerosas e carentes, com falta de trabalho ou trabalho praticamente escravo, com carências sistêmicas no campo da saúde. Para compreender melhor a extensão e os desafios encontrados, é preciso considerar também as condições precárias de estradas e dos meios de transporte há cinquenta anos atrás.

Nesse contexto, as Irmãs missionárias gaúchas encontraram incentivos e força, uma vez haviam chegado dispostas aos 5 “tes”, conforme palavras de Dom Eliseu na celebração de envio para o novo espaço de vida e de missão:  topar tudo, todo o tempo, tinindo, isto é, na disponibilidade e doação total, alegre e perseverante! Enfrentar tudo: concretizar o ideal de ação missionária, conforme o Carisma da Congregação, assim expresso em um dos encontros sistemáticos e criativos de oração, formação, avaliação e planejamento do grupo: “Ação missionária da FSCJ é desencadear, pela vida e pela Palavra, o processo de evangelização, considerando o Amor Complacente de Jesus, em uma comunidade que seja consciente do Batismo, aberta à ação do Espírito, comprometida com o Reino: comunidade que anuncie a esperança cristã, transforme a realidade, assuma a dinâmica da conversão, acolha o irmão, revele a bondade do Pai: uma comunidade que TESTEMUNHE A CARIDADE DO CORAÇÃO DE JESUS”.

Aos poucos, novas Irmãs foram chegando do Sul e outras comunidades foram sendo abertas no Estado de Alagoas e, posteriormente, na Bahia, Distrito Federal, Pernambuco, Roraima e Amazonas.

O leque de atividades ampliou-se ao longo dos 50 anos. Além da atenção sempre voltada ao fortalecimento da missão evangelizadora, ao trabalho de base na organização popular e na formação para o trabalho, a presença e atuação em organizações da sociedade civil e religiosa tem levado as FSCJ a contribuírem, conforme seu Carisma, em nível de articulação, de trabalho conjunto e participativo também com instituições da sociedade civil, em diversos Conselhos, organismos de coordenação e assessorias. O trabalho conjunto com muitas pessoas que decidem participar do Carisma das FSCJ como leigos e leigas membros desta família religiosa e que se mantém desde a fundação da Congregação, na Itália, em 1831, tem sido uma força na ação missionária desenvolvida.

Ao longo da história celebrada neste jubileu, além da atuação nas comunidades, podemos encontrar o registro da presença de Irmãs em equipes de coordenação pastoral de paróquias e da Arquidiocese e em diversas pastorais. A Pastoral Carcerária (APAC), a Pastoral da Juventude, especialmente a PJMP, a PJE (da Juventude Estudantil) e a Pastoral Vocacional também contaram sempre com a presença fraterna e o acompanhamento de Filhas do Sagrado Coração de Jesus. Na dinamização dos projetos e atividades da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) está sempre presente a disponibilidade de membros da Província Teresa Verzeri, para que possam ser atingidos seus objetivos e levadas adiante as atividades previstas.

Junto a organismos públicos ou organizados em nível nacional, foram assumidos compromissos em assessorias e atuação na Secretaria Estadual de Educação e em Secretarias Municipais, orientando e acompanhando o Ensino Religioso. No campo educativo, registra-se, também, o serviço assumido na direção de Escolas Municipais, a presença na Associação de Educação Católica (AEC) e no Movimento de Educação de Base (MEB), bem como em Projetos Educativos em bairros carentes.

Capítulo em destaque e permanente na história, rico em comprovações é o referente à saúde popular que continua a merecer cuidados e atenção, especialmente neste tempo de pandemia.  Essa missão vai desde orientações muito familiares, nos cursos dados nos Clubes de Mães logo que as Irmãs chegaram, na organização de hortas comunitárias, na capacitação de parteiras e enfermeiras, até se chegar à fundação de maternidades (em Maragogi e Colônia) com significativo apoio também de entidades internacionais devidamente sensibilizadas. A atenção ao saneamento básico e à qualidade da água oferecida à população gerou projetos em parceria com poderes públicos para a construção de cisternas, poços artesianos e outras formas de cuidado com a saúde do povo.

Um exigente e proveitoso acompanhamento às lutas pela terra e um sério investimento na linha da agricultura familiar resultou no apoio, entre outras iniciativas, à fundação de centros comunitários, à organização de sindicatos e ao acompanhamento a grupos organizados para atender a reivindicações por direitos básicos da população, sem esperar por favores especialmente em tempo de eleições.

A fundação de uma Cooperativa e, posteriormente, de um espaço alugado para encontros e refeições de grupos diversos em Maragogi, bem como de uma Casa de encontros e de espiritualidade – o Recanto Coração de Jesus – em Maceió, representam não somente fontes de ajuda para sustento da missão da Congregação, mas constituem também uma forma de valorizar e aproveitar a agricultura familiar e os produtos mais livres de agrotóxicos, bem como de oferecer à comunidade espaços de formação, capacitação, troca de experiências, cuidado, acolhida e escuta de que tanto se necessita neste tempo de pandemia especialmente.

Tempo de JUBILEU é tempo de parar para agradecer pelas luzes recebidas, pelas realizações; é tempo de reconhecer fraquezas e infidelidades, de assumir novos compromissos de libertação pessoal e institucional. “Por tudo dai graças…” É assim que no dia 18 de julho deste ano de 2021 ainda bastante marcado pela pandemia cantamos o nosso hino de louvor por termos sido enviadas e acolhidas nestas terras abençoadas com quem vivemos experiências riquíssimas de troca de saberes, de comunhão de iniciativas para o bem do povo e de ajuda mútua para jamais desistirmos de nossa missão de anúncio da BOA NOTÍCIA DA LIBERTAÇÃO!