Dom Antônio Muniz Fernandes: 70 anos de uma vida oblata

Artigo Por  Pe. Jerônimo Pereira Bezerra
In Christo Per Mariam

Há 15 anos, chegava às terras dos Marechais e coqueirais, um bispo paraibano, sisudo (como diz o povo do Nordeste), objetivo, pragmático, um olhar desconfiado e ágil nas respostas. Para tudo tinha uma boa resposta, às vezes agradável e outras vezes não, mas, certamente, certeira. O paraibano de olhos azulados, passos ligeiros e olhares profundos iniciou sua missão pastoral, criando o plano de ação. Mais que manuais, era prático, todos conhecemos o seu bordão: “Igreja orante, missionária e samaritana”. Então, nos anos iniciais, implantava e revitalizava as grandes obras sociais da Arquidiocese de Maceió. O olhar penetrante voltava-se para os mais pobres, desolados, esquecidos e marginalizados por parte da sociedade e do poder público.

“Só fales quando tuas palavras forem mais proveitosas que teu silêncio.” (Serva de Deus, Madre Maria José de Jesus). Seu olhar, muitas vezes até assustador, inquietante e provocador, de modo intrigante, encontra-se com o nosso. Um pai, típico daqueles homens do interior. Por trás da casca dura, sempre enxerguei um coração generoso e acolhedor.
Não é bajulação. Todos sabem, não sou inclinado para adulações e conchavos. Sou fruto de seu coração generoso. Quando quase ninguém acreditava em minha vocação, Dom Antônio Muniz Fernandes acreditou. Em 2010, aceitando-me para reingresso no Seminário de Maceió. Depois, em 2011, experimentei uma situação difícil no processo formativo. Recordo como hoje: cheguei a sua sala nervoso, chorando e gaguejando. Era uma situação extremamente complexa. Então ele me escutou, orientou, pediu calma e que eu pudesse confiar em Deus, pois tudo seria resolvido. A vida seguiu. Fui ordenado sacerdote e anos depois nos encontramos na Palácio episcopal da diocese de Palmeira dos Índios. Estávamos D. Dulcênio, D. Antônio e eu. Então, do seu jeito, expressou: “Jerônimo, quando quiser voltar para Maceió, as portas estarão abertas”. Então D. Dulcênio retrucou: “Ele não vai voltar, agora é padre da diocese”. Da minha parte, estava entre dois bispos. Respondi com um sorriso, depois mudamos de conversa. Anos mais tarde, também vivendo uma situação difícil, procurei-o manifestando meu desejo de exercer o ministério sacerdotal em Maceió. Sem condicionamentos, acolheu-me, verdadeiramente, como um pai. No dia 28 de maio, retornei a Maceió. Não compreendia porque imediatamente não recebi uma paróquia. Os meses se passaram, incomodava sempre o Cônego João Neto: “O bispo tem algum posicionamento sobre a minha situação?” O padre, ecônomo, respondia: “Paciência”. Depois entendi os contextos da demora. Precisava aprender a confiar na providência divina. Seis meses depois, recebi a ligação do Pe. Alex Rufino, outro intercessor, que tratou logo assim: “Criatura, acorda! O arcebispo deseja falar urgente com você. Está lhe esperando na cúria”. Então, como morava próximo, imediatamente fui ao seu encontro. Chegando lá, de forma clara e objetiva, afirmou: “O Sr. assumirá as questões pastorais da Perpétuo Socorro, no Cleto”. Ponderou algumas questões, e, em seguida, disse as seguintes palavras: “Eu sei que você é desaforado, mas tenha calma”. Quanto sou grato por vossa acolhida, generosidade e amor. Às vezes, não consigo expressar meus sentimentos, mas Vossa Excelência conhece-me, sabe o quanto sou verdadeiro e honesto em tudo. Não consigo dizer em palavras faladas, contudo expresso em palavras escritas.
Vossa vida é expressão marcante de uma existência oblata.
São 42 anos de vida sacerdotal. 24 anos de vida episcopal e 70 anos de nascimento. Nunca tenha dúvida: sua existência é um precioso dom do amor de Deus. Verdadeiramente, deixaste te consumir como uma vela que queima no altar. Lindos não são os ritos, os trabalhos empenhados, as obras construídas, a liturgia bem celebrada, linda é uma vida ofertada de modo irrestrita ao amor Deus. “A doação a Deus sem limites, a divina oferta, a plena e duradoura união é a maior elevação do coração, alcançável por nós; é o maior grau de oração.” (Santa Teresa Benedita da Cruz) Fizestes de tua existência uma oração verdadeira de amor a Cristo e à Igreja. Ao celebrar 70 anos de vida, possa continuar experimentando o vinho novo do amor de Deus.
Agradecemos a Deus por sua graça conceder-nos o presente da vossa vida. Agora és chamado a continuar exalando o perfume da bondade, generosidade e amor de Deus.