O Ano de São José: um presente para toda a Igreja

A convocação do “Ano de São José” nasce do coração paternal de Francisco, que deseja chegar ao coração de todos os católicos, convidando cada um a conhecer melhor o pai adotivo do Senhor e a sua importância no plano salvífico de Deus.

Bruno Franguelli, sj / VaticanNews

Até o dia 8 de dezembro de 2021, a Igreja vive o Ano dedicado a São José (Foto: VaticanNews)

Em comemoração aos 150 anos da proclamação de São José como guardião universal da Igreja, pelo Papa Pio IX, o Papa Francisco acaba de dar um grande presente à Igreja, o “Ano de São José” através da Carta Apostólica Patris Corde “Coração de Pai”. Esta Carta, como o próprio título sugere, é cheia de afeto. Nasce do coração paternal de Francisco, que deseja, por meio dela, chegar ao coração de todos os católicos, convidando cada um a conhecer melhor o pai adotivo do Senhor e a sua importância no plano salvífico de Deus.

A Tradição Cristã sempre teve uma especial atenção à importância do sim de Maria, mas nem sempre reconheceu com a mesma consciência a importância do sim de José, o carpinteiro de Nazaré, a quem Maria estava prometida em casamento. Foi crucial a aceitação de José para que o plano da Salvação de Deus pudesse ser realizado. A Sagrada Escritura não esconde as dificuldades pessoais que São José precisou enfrentar ao receber o anúncio de que sua futura esposa, sem ter contato com homem algum, estava grávida.

O Evangelho dá a José o título de justo (Mt 1,19), termo raríssimo e concedido a pouquíssimos personagens na Sagrada Escritura. Justamente porque equivale a palavra santo que, no Antigo Testamento, é um atributo reservado somente a Deus (Ecle 7,20). Isso revela muito sobre a integridade, os valores e a santidade de vida de José. Era um homem fiel a Lei, observador dos mandamentos e preceitos da Torah. Por isso, com sua obediência a Deus, escuta a voz do anjo e não teme em aceitar Maria como esposa e assumir o Filho de Deus como seu próprio filho.

A vida de São José e de Maria não será nada fácil. Terão de enfrentar as dificuldades das mais diversas. Eram pobres. O termo que conceitua a profissão de José em grego é tekton que não significa simplesmente carpinteiro, mas aquele que constrói, uma espécie de artesão. José, na verdade era um artista. Ganhava pouco e, como muitos pais de família, viveu a angústia de não poder dar conforto e segurança aos seus. Esta tristeza José sentiu na pele, principalmente quando viu sua esposa dando à luz em lugar paupérrimo, no frio e na miséria. Sabemos que as dificuldades de José não terminaram na gruta de Belém. Imediatamente após o nascimento de Jesus, obedeceu ao anjo e conduziu sua família ao Egito para proteger o recém-nascido das ambições perversas de Herodes. Assim, tornaram-se migrantes. Podemos imaginar o pobre José, buscando um emprego, tentando oferecer o mínimo para sua família nas terras estrangeiras do Egito.

O Papa Francisco, lembra em sua Carta Patris Corde de tantos pais que, infelizmente, não conseguem oferecer nem mesmo o básico aos seus filhos. José retorna a Nazaré e lá, ensina o menino Jesus a trabalhar, a entender a dura realidade da vida, será um pai presente. A carta do Papa também traz uma belíssima constatação. O fato de Jesus ser tão respeitoso com as mulheres, homem de oração e próximo aos mais sofredores, pode nos revelar tanto da figura do pai que teve, com quem aprendeu tudo isso. Às vezes imaginamos Jesus como se já tivesse nascido pronto. Mas, na verdade, a própria Escritura revela que Jesus teve de aprender gradualmente. O episódio do encontro de Jesus aos doze anos no Templo de Jerusalém nos revela que ele retornou a Nazaré e era obediente ao Pai e a Mãe. E ainda nos revela que ele crescia em estatura, sabedoria e graça diante de Deus e dos homens (cf. Lc 2,52). Assim, José, a partir de sua própria obediência a Deus, e na escuta atenta de Deus, cria o filho. Obediência que se dá na acolhida, no acompanhamento.

José é um pai presente. O papa recorda da carência que temos de esposos e pais como José. Ele não compreendeu tudo. Ele acolheu tudo. José não se impôs na vida do filho, mas ele acompanhou a Jesus na escolha de seu próprio caminho. E assim, a figura de São José se oculta e não temos mais informações sobre ele na Bíblia. Mas o pouco que temos já nos é suficiente para reconhecer a sua importância impar na vida de Jesus e no plano da Salvação. O Papa Pio IX, então, ao declarar São José patrono universal da Igreja, estava dizendo que assim como o guardião da família de Nazaré foi capaz de proteger o Filho de Deus, também segue protegendo a Igreja que é extensão do Corpo Místico de Cristo.

A missão de José no escondimento e na missão oculta tem tanto a dizer aos homens de hoje. O Papa Francisco recorda de tantos homens e mulheres que, de maneira especial, durante a pandemia, arriscam suas vidas para cuidar e proteger as pessoas vítimas desta enfermidade. A Carta Apostólica Patris Corde e o Ano de São José são um convite a cada um de nós para conhecer e imitar aquele homem justo e santo, que mesmo sem compreender tudo, acolheu tudo.

Salve, guardião do Redentor
e esposo da Virgem Maria!
A vós, Deus confiou o seu Filho;
em vós, Maria depositou a sua confiança;
convosco, Cristo tornou-Se homem.

Ó Bem-aventurado José, mostrai-vos pai também para nós
e guiai-nos no caminho da vida.
Alcançai-nos graça, misericórdia e coragem,
e defendei-nos de todo o mal. Amém.