Oração, Jejum e Caridade norteiam a espiritualidade quaresmal

 “Na quaresma a gente olha para o nosso coração, percebe o abismo do pecado e compreende a graça de Deus que precisamos buscar e viver”!

 A jornalista Rose Lino, responsável pela coluna “Entrevista” do jornal O Semeador, entrevistou o Padre Elison Silva que é natural de São Luís do Quitunde, Mestre em Teologia Dogmática e atualmente é o vice-reitor do Seminário Arquidiocesano e administrador da Paróquia Pessoal Universitária Santa Teresinha de Liseux, no Farol. Ele fala como viver bem a Espiritualidade no tempo quaresmal.

 

Como viver bem a Quaresma?

A Quaresma é o tempo em que o Cristão é chamado a viver a experiência de Jesus no deserto. É por isso mesmo o tempo do encontro consigo mesmo porque se trata de um tempo de privação, um tempo de escassez como a imagem do deserto sem água nos recorda. Então o cristão, ele experimenta esse tempo na vivência da prática da oração, na vivência da maior intimidade com Deus. Ele procura por isso mesmo, combater tudo aquilo que espiritualmente o coloca para longe de Deus. A quaresma é a oportunidade de fazer esse confronto consigo mesmo para experimentar e deixar que a graça de Deus nos transforme por isso é chamado do tempo de conversão, mas é sempre o encontro com Deus que passa pela verdade da nossa condição. Então na quaresma a gente olha para o nosso coração, percebe o abismo do pecado e compreende a graça de Deus que precisamos buscar e viver.

Em que consiste a Espiritualidade Quaresmal? É tempo para que?

A espiritualidade da Quaresma é fortemente marcada pela conversão e o caminho que a igreja nos propõe para a conversão é a oração, o jejum e a caridade. Compreender que a oração é oferecer algo a mais do nosso tempo de comunhão com Deus. O jejum é a capacidade, por causa da fé, de renunciar a um alimento, de abster-se de carne, renunciar ao doce, para experimentar a força e a graça de Deus que é muito mais importante do que um alimento. Mas pelo jejum também nós nos solidarizamos com os mais pobres porque o jejum é para a partilha, o jejum quebra o nosso orgulho porque aponta a nossa fragilidade e diante da nossa limitação grita em nós o absoluto de Deus: “Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”! É também o tempo da caridade, é o tempo do exercício do amor que nos aproxima da verdade do outro, que nos aproxima com o sentimento de compaixão daquelas pessoas que estão mais distantes da nossa atenção e do nosso carinho. Mas aqui a caridade também para promover a partilha, a comunhão dos bens que a igreja nos oferece como essa oportunidade, além disso, nós podemos também pensar que é tempo de combater os nossos vícios, tempo de uma preparação para o sacramento da reconciliação, é tempo de viver o exercício piedoso das vias sacras públicas e por isso mesmo dando o testemunho de fé e da nossa esperança em Cristo Jesus.

 

Como o cristão deve se preparar para celebrar o grande mistério Pascal de Cristo?

Recomendo que esse tempo de preparação seja fortemente marcado pela condição da escuta. Nós iniciamos o tempo da quaresma com o convite do profeta Joel: “Rasgai o coração, não as vestes”. Então o profeta Joel nos dá uma imagem muito bonita daquilo que deve ser a experiência do cristão nesse tempo da quaresma e eu diria que nesse rasgar o coração está presente toda a disponibilidade, toda a generosa atenção que os cristãos devem oferecer à escuta de Nosso Senhor. Outra imagem que pode ajudar o como viver é a imagem da transfiguração, porque na transfiguração do Monte Tabor fez-se ouvir a voz do Pai que diz: “Este é meu filho o escolhido, escutai-o! ”, então esta disponibilidade para acolher. É tempo de rezar com a palavra de Deus, de fazer a nossa leitura orante da palavra de Deus, da meditação dos Salmos ou quem sabe, da leitura do Livro do Êxodo, de algum dos Evangelhos ou quem dera pelo menos do Evangelho de cada dia como meditação, para viver essa espiritualidade, esse caminho da quaresma.

Quais são os frutos espirituais conquistados e que repercutem na vida cristã?

O fruto principal é a conversão; depois claro, como pertença de um caminho de santidade então é tempo de mudar as atitudes, é tempo de rever o caminho, é tempo de fazer essa experiência da verdadeira graça de Deus.  Então tempo de salvação. Olhar para a cruz, o fruto é aquele que brota da cruz, então nos comportemos como amigos da cruz, como amigos de Jesus. Se morremos com Ele, com Ele ressuscitaremos, então a quaresma nos introduz esse mistério da paixão do sofrimento, vai nos preparando para essa vivência litúrgica na semana santa, então somos que de algum modo participantes desse processo da vida de Cristo que se realiza e que se atualiza em nós mediante a graça do sacramento e isso tudo para nos converter. Aprender de Jesus para viver melhor a vida cristã, ser configurados a Cristo pela conversão, pela santidade de vida. É a nossa configuração a Cristo mediante a conversão, a prática dos sacramentos e por isso mesmo é um tempo oportuno de fazer esse caminho com muita seriedade, então é um tempo exigente que nós deveríamos ter sempre presente como até mesmo a possibilidade de ser a última quaresma de nossa vida, ou seja, viver bem esses exercícios que já foram lembrados, mas sobretudo essa prática da sincera conversão da verdadeira comunhão com Nosso Senhor.

Que itinerário o cristão deve seguir para aprofundar a Espiritualidade Quaresmal?

O itinerário é aquele da Igreja, olhar para cruz, aprender de Jesus. “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”. E no olhar verdadeiro de Jesus, a conversão. Por causa dessa conversão a vida nova, deixar-se transformar pela ação do Espírito Santo que clama, que grita em nós esse apelo verdadeiro de conversão, mas também as práticas que nós devemos seguir acompanhadas do silêncio, acompanhadas do recolhimento, acompanhadas da modéstia e simplicidade de não querer fazer propaganda e no combate contra o mal. Não deixar que o mal cresça, mas lutar para que o bem realize sempre de novo a graça e o dom do seu amor verdadeiro.