Às vésperas de seu aniversário de morte, Padre Cícero foi tema de roda de conversa com historiadores.
*Por Micheliny Tenório | Pascom Arquidiocesana
Em alusão aos 87 anos da morte do Padre Cícero Romão Batista, a Paróquia Nossa Senhora das Graças, no bairro da Levada, promoveu no dia 19 de julho uma roda de conversa em uma live com o tema: “Padre Cícero e a questão do Juazeiro”.
A roda de conversa teve transmissão pelas redes sociais da paróquia e da Arquidiocese de Maceió e contou com a participação de forma remota dos professores de história Pedro Lima Vasconcelos e Álvaro Queiroz. Na igreja, alguns fiéis participaram seguindo os protocolos de distanciamento. Padre Gilvan Gomes falou sobre a iniciativa.
“Para que a gente possa partilhar um pouco desse saber, das pesquisas que se tem a respeito do Padre Cícero e da questão do Juazeiro, que implicam dados da religião do povo, política e toda a romanização da Igreja nessa época; que requer conversarmos numa linguagem mais popular para entendermos mais a grandeza da figura do nosso padrinho Padre Cícero Romão Batista”, disse o pároco.
Roda de conversa
Uma mensagem enviada pelo Padre Cícero José, reitor da Basílica de Nossa Senhora das Dores, no Juazeiro do Norte, destacou a obediência do Padre Cícero.
“E tanto era fiel a esse chamado, o ‘padrinho’, que ele se tornou depois desses fatos, pelo seu chamado e obediência, mártir da obediência. E mesmo sofrendo as mais diversas provações, que nós sabemos depois dos fatos – estamos refletindo hoje sobre Padre Cícero e a Beata Maria de Araújo – ele foi perseguido, caluniado e até impedido de exercer o ministério sacerdotal.”, expressou o sacerdote.
Os fatos aos quais o sacerdote se refere se relacionam ao milagre da hóstia, que verteu em sangue no momento em que a Beata Maria de Araújo comungou. O professor Pedro Lima Vasconcelos, que tem pós-doutorado em História, refletiu sobre esse milagre.
“A importância desse milagre: ele inaugurou uma nova história, ele fez com que acontecessem muitas outras histórias nesses 130 anos em que a vida do Padre Cícero muda radicalmente e a vida do povo sertanejo e nordestino muda radicalmente.”, explanou Pedro.
O professor Álvaro Queiroz apresentou características do contexto histórico em que surgiu o fenômeno Padre Cícero em meio à romanização católica na América Latina.
“Nós não tínhamos valos nenhum, nossa prática religiosa era tida como mera superstição; era o etnocentrismo europeu, ou seja, a superioridade europeia em diversas áreas, incluindo a religião. No processo de romanização, além do etnocentrismo, outras duas características se sobressaíram: a centralidade do da fé na figura do Papa e do poder da Igreja nas mãos do clero.”, explicou professor Álvaro.
O boliviano naturalizado brasileiro Jorge Geballos, que se tornou romeiro, disse que o momento reforçou sua devoção.
“Uma aula que raramente vemos e com certeza muita gente gostou de conhecer um pouco mais a história do Padre Cícero”, disse Jorge.
O padre Cícero do Juazeiro foi um motivador do catolicismo popular. Era piedoso e próximo dos mais pobres, mas, o Vaticano suspendeu suas ordens sacerdotais por causa de um suposto milagre que acontecia nas missas que presidia e que nunca foi reconhecido pela Igreja. Em 2015, o vaticano encerrou esta punição e deu-se início ao processo de beatificação do popularmente conhecido “Padim Ciço” do Juazeiro.