Por Pe. Valmir Galdino
O sacramento da Confissão é uma dádiva de Deus para nós cristãos católicos. Somos sutilmente convidados, por meio deste sacramento, a estreitar a nossa comunhão com o Senhor. Como? Reconhecendo continuamente as nossas muitas culpas, desvios, misérias e fraquezas.
Logo, recordemos que o pecado desordenou a nossa vida por inteiro. O pecado nos tirou dos trilhos da graça divina. O pecado tornou torta e desencantada a vida humana. O pecado desvincula sorrateiramente o ser humano da comunhão com Cristo, com a Igreja, com o outro, nosso irmão. O pecado “fere a natureza do homem e ofende a solidariedade humana” (CIgC, 1849).
Ou seja, simplesmente o pecado desgraça a nossa vida, inferioriza a nossa existência. O pecado tem o “poder” de nos apartar de Deus. “O pecado ergue-se contra o amor de Deus por nós e desvia dele os nossos corações” (CIgC, 1850). Ele nos reduz a uma pequenez sem limites, descaracteriza-nos. Ele, o pecado, desqualifica, bloqueia e neutraliza em nós a graça divina.
Todavia, eis uma palavra de consolo diante dos estragos trazidos pelo pecado: “…mas onde avultou o pecado, a graça superabundou… através de Jesus Cristo” (Rm 5,20ss). Isto é, o pecado é forte, sim, em nós. Mas não é maior, nunca maior que a graça de Deus em nós. “Eu confessei a Ti o meu pecado, e meu erro não te encobri; eu disse: ‘Vou ao Senhor, confessar meu pecado!’ E Tu absolveste o meu erro, perdoaste o meu pecado” (Sl 32,5). Pronto, é assim que Deus age diante de um coração pecador, diante de um coração pecador e arrependido.
Por isso, com muita propriedade, cantou a Virgem Santíssima: “E sua misericórdia perdura de geração em geração, para aqueles que o temem” (Lc 1,50). É verdade. A misericórdia de Deus é imensa, tão imensa que não a podemos calcular, medir ou quantificar. Essa misericórdia, como nos disse o salmo, se manifesta e se apresenta a um coração que se reconhece pecador, miserável e arrependido.
E aqui voltamos ao sacramento da misericórdia, também chamado de sacramento da reconciliação ou penitência. O sacramento da confissão é sinal profundo e visível da misericórdia de Deus derramada no coração do homem. O sacramento da confissão é cura para as feridas da alma humana, e porque não dizer para as feridas do corpo, causadas pelo pecado. O sacramento da confissão é sacramento de conversão pois leva o fiel, maculado pelo pecado, a voltar-se para Cristo, seu Salvador.
Por conseguintes, não percamos de vista que estamos no tempo bendito da Quaresma. Tempo este que, insistentemente, nos chama para um retorno a Deus. O tempo da quaresma nos leva a refletir sobre a nossa relação com Deus e com o nosso próximo. O tempo da quaresma nos leva a refletir sobre os nossos muitos desmantelos causados pela forte influência do pecado em nós. O tempo da quaresma conduz a nos desarmarmos por meio de uma reta contrição, arrependimento, e voltarmos para Deus livremente.
Daí a necessidade de comparecermos diante de um sacerdote para uma sincera confissão. Mas antes de tudo é preciso fazer o mesmo caminho do Filho Pródigo do Evangelho de Lucas: examinar a consciência, reconhecer as culpas, pedir perdão e trilhar um outro caminho. É o caminho da vida nova, do “Homem Novo, recriado segundo Deus, na justiça e santidade da verdade” (Ef 422-23).
Eis aqui um santo e benéfico remédio no processo de conversão, a sagrada confissão. Fiquemos com as sábias palavras de Santo Agostinho: “Quando começas a detestar o que fizeste, é então que tuas boas obras começam, porque acusas tuas más obras. A confissão das más obras é o começo das boas obras. Contribuis para a verdade e consegues chegar à luz”. Reflitamos, com sinceridade de coração, as palavras deste erudito santo da Igreja e tenhamos, também, sábias atitudes.
Portanto, quaresma é tempo favorável de conversão. É tempo divino que entra na nossa realidade humana. Tempo de volta para Deus. Tempo de mudança de mentalidade e, por consequência, de atitude. E esse caminho se faz bem feito pelo sacramento da reconciliação, penitência ou confissão. Mãos à obra.